A atividade esportiva é extremamente importante para o desenvolvimento físico, social e mental e este desenvolvimento é imprescindível na infância, fase onde ocorrem as principais abstrações da criança. No ambiente escolar, a criança pode se sentir mais solta e realiza atividades em grupo, voltadas para seu desenvolvimento intelectual e social. No contato direto com outras crianças, ela pode aprender a desenvolver-se socialmente, aprender a lidar com o próximo e principalmente a atuar na sociedade.
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Quando se fala em iniciação esportiva, não se está referindo apenas ao desenvolvimento de aulas de educação física, nas quais todas as modalidades de esporte são ensinadas. A iniciação esportiva acontece no momento em que as atividades esportivas são vividas e presenciadas pelo aluno que, passa a ter aquela atividade como ação cotidiana.
Acredita-se que para que um aluno esteja apto a participar de uma iniciação esportiva na escola, o professor deve ter embasamento teórico e prático, conhecer as fases de desenvolvimento da criança, bem como saber da importância que este processo tem no próprio desenvolvimento social, físico e cognitivo da criança.
Portanto, realizar uma iniciação esportiva na escola, com crianças de 1ª a 4ª série (2º a 5º ano) do ensino fundamental é possibilitar o seu crescimento pessoal.
Através da prática esportiva, as crianças são submetidas às situações reais de convivência interpessoal, de respeito ás regras do futebol, de respeito ao próximo, de situações de ganho ou de perda do jogo, ou seja, possibilita a criança se desenvolver emocionalmente.
Para tanto, como já foi falado, é necessário que o professor seja sempre incentivado à formação contínua e preparo teórico para lidar com a situação de treinador. Isto porque é ele quem estará em contato direto com o aluno e perceberá seu desenvolvimento, suas conquistas e suas dificuldades.
Sendo assim, para compreender a criança, também é importante a interação com os pais. Isto porque são os pais, os responsáveis pelo provimento das características morais e sociais da criança, além de serem responsáveis por fornecer características que irão compor a personalidade da criança. No período da infância, e interessante a presença dos pais, pois elas têm a necessidade de serem observadas e incentivadas não apenas pelos professores, mas pelos pais também. Principalmente pelos pais.
Para tanto, será destacado como o futebol possibilita o desenvolvimento das crianças em diversos aspectos. Mas, deve existir um preparo dos professores para a realização de tal atividade. Sendo assim, destaca-se neste trabalho monográfico que é função da escola auxiliar na formação física, mental, social e cognitiva da criança e também é perceptível que tal crescimento é essencial para a formação de um cidadão na sociedade.
As aulas de Educação Física são conhecidas por desenvolver o aspecto físico da criança. Mas, aceitar é conceito é ultrapassado. Isto porque já está comprovado que através das atividades físicas, conceitos como regras, convivência, desenvolvimentos do aspecto emocional e social são trabalhados.
Portanto, como o professor de Educação Física poderá iniciar seus alunos na prática esportiva do Futebol, respeitando suas características cognitivas, físicas e sociais?
Propor métodos para promover a cultura à iniciação esportiva ao futebol destacando sua importância no crescimento físico, mental e social da criança é o objetivo principal deste trabalho. No primeiro capítulo será conceituada "Iniciação Esportiva" e destacar-se-á a importância desta atividade no desenvolvimento da criança. Já no segundo, destaca-se a importância da prática esportiva desde a primeira fase da educação básica, promovendo o crescimento físico, mental e social da criança, como também a importância da família neste processo, mostrando a inter-relação entre pais e filhos e também com a escola.
Tal monografia foi realizada com embasamento teórico de artigos e monografias que abordassem o tema proposto. Sendo assim, realizou-se levantamento bibliográfico para facilitar na revisão bibliográfica, metodologia escolhida para a elaboração deste trabalho. Para posterior compreensão e elaboração dos seguintes escritores: AMARAL (2008), ROSSETTI-FERREIRA (2000), TODT (2006), CÁRDENAS (Documento sem Data), FILGUEIRA (2007), além de documentos do Ministério da Educação, como os Parâmetros Curriculares Nacionais e a LDB, que dão respaldo para a realização da iniciação esportiva na escola.
Iniciação esportiva e o futebol
No Brasil, o futebol tem é um fenômeno de grande importância sociocultural e é, também, vastamente vivenciado pelo brasileiro em seu dia-a-dia e a ele é dado novo valor a partir de sua apropriação pelos diversos grupos sociais existentes neste país. Numa nação em que o Futebol é orgulho nacional é de praxe que a maioria dos pais apostem em seus filhos esperanças de que um dia eles sejam jogadores famosos e os incluam em projetos de iniciação esportiva. Isso ocorre com os pais que possuem condições financeiras de incluir seus filhos em "Escolinhas de Futebol". Mas, as crianças que não possuem boas condições financeiras praticam este esporte, geralmente, na escola e nos momentos vagos, nas ruas e campos de futebol existentes em suas comunidades. Iniciar o conhecimento deste esporte, portanto ocorre a partir do momento em que ele é praticado. Mas, há vários conceitos existentes por trás da atividade "lúdica" que existe nos primeiros jogos praticados por crianças.
Para Todt (2006, p. 262) o esporte desempenha expressiva influência nos processos de desenvolvimento desde a infância isto porque a preparação de jovens atletas para a Iniciação Esportiva centra sua atenção nas relações interpessoais. Tal autor enfatiza que o esporte, a partir do ponto de vista psicológico e motor, abranger o jogo, seus objetivos, funções, meios, treinamentos, a comunicação no grupo, os tipos de vínculos que se estabelecem entre jogadores, técnicos, familiares e torcedores, além das próprias instituições, entre tantos outros pontos possíveis de serem investigados.
De acordo com Ramos & Neves (2007) a iniciação esportiva é o período em que a criança começa a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva. Santana (apud RAMOS & NEVES, 2007) acrescenta que a iniciação esportiva é marcada pela prática regular e orientada de uma ou mais modalidades esportivas, e o objetivo imediato é dar continuidade ao desenvolvimento da criança de forma integral, não implicando em competições regulares.
A iniciação esportiva, portanto, é iniciar uma determinada pessoal em uma modalidade esportiva, observando suas características principais e as incluindo em tal modalidade. Já na infância ela é importante para a criança, pois possibilita seu crescimento, tanto físico como social. Porém segundo Arena e Böhme (2000), as atividades esportivas podem contribuir para um desenvolvimento bio-psicosocial harmonioso da criança e do adolescente nos diferentes períodos etários, mas tal fato indica a necessidade de se estudar como as crianças estão sendo iniciadas, bem como se a forma utilizada é correta e coerente com suas condições, características e necessidades, correspondendo ou não ao seu estágio de desenvolvimento.
Almeida (apud RAMOS & NEVES, 2007), por exemplo, descreve que a iniciação esportiva ocorre em três estágios. A iniciação desportiva, primeira etapa, portanto, ocorre entre oito e nove anos e seu objetivo é a aquisição de habilidades motoras e destrezas específicas e globais, conseguidas através de formas básicas de movimentos e de jogos pré-desportivos. É neste período que a criança encontra-se competente para a aprendizagem inicial dos esportes, nada obstante, ainda não está hábil para o esporte coletivo de competição. Entende-se, assim, que o esporte coletivo atrai as crianças muito mais pelo prazer da atividade em si do que pela própria competitividade. O autor ainda ressalta que o ideal, nessa fase, é oferecer várias oportunidades para o desenvolvimento das mais variadas formas de habilidades à criança, instrumentalizando-a com atividades motoras que poderão ser utilizadas em diversos esportes coletivos.
Machado e Presoto (2001) defendem a iniciação esportiva, como parte de um Programa de Educação Física deve ser abordada como aprendizagem e desenvolvimento motor, com táticas e regras básicas e sem muita exigência técnica, física ou tática, tendo como objetivo cooperar para a formação integral do aluno (físico, cognitivo e afetivo-social), podendo, a partir daí ser uma preparação técnica para os esportes escolares. Entretanto, segundo esses mesmos autores, o que acontece na realidade é o uso da competição esportiva, envolvendo classes, turmas e até outras escolas, sem uma preparação adequada dos educandos. (CAPITANIO, 2003)1
Já na próxima fase descrita por Almeida (apud RAMOS & NEVES, 2007), que se encontra na faixa etária de 10 e 11 anos de idade, fase do aperfeiçoamento desportivo, a criança já experimenta e participa plenamente de ações baseadas na cooperação e colaboração. Portanto, o jogo assume um aspecto sócio-desportivo, no qual seus participantes interatuam exercendo um papel definido a ser cumprido. Esta etapa ter por objetivo introduzir os elementos técnicos fundamentais, táticas gerais e regras através de jogos educativos e contestes e atividades esportivas com regras. Almeida (apud RAMOS & NEVES, 2007) destaca que esta é considerada uma excelente faixa etária para o aprendizado, sendo que, as atividades físicas esportivas a serem oferecidas nessa faixa etária devem ter o intuito de ampliar o repertório de movimentos dos fundamentos básicos dos diversos esportes e, também, instrumentalizar as crianças com elementos psicossociais que permitam a socialização e as ações cooperativas através de jogos e brincadeiras. Na terceira e última, denominada introdução ao treinamento, a criança entre 12 e 13 anos alcança um significativo desenvolvimento da sua capacidade intelectual e física, tendo como objetivo o aperfeiçoamento das técnicas individuais, dos sistemas táticos, além da aquisição das qualidades físicas necessárias para a prática do desporto.
Portanto, ao professor cabe perceber que as crianças passam por fases e que elas devem ser respeitadas, não adiantando nem atrasando o processo. Percebe-se que muitas características das crianças podem ser perceptíveis no trabalho diário com eles. As crianças, inicialmente querem praticar esportes por serem ligadas ao lúdico. Sendo assim, o professor de Educação Física deve estar apto a realizar a atividade de iniciação esportiva, respeitando as características individuais de cada aluno e sabendo qual a melhor fase para desenvolver tal trabalho.
Em seu trabalho, Oliveira & Paes (2004) descrevem quais são os períodos da Iniciação Esportiva, através de um quadro, que vai de encontro aos conceitos de Almeida (apud RAMOS & NEVES, 2007).
Idade Biológica
Idade Escolar
Fases do Desenvolvimento esportivo, elaboradas para estudo
Idade Cronológica
Categorias disputadas no basquetebol
Pubescência
Sétima e oitava séries
Iniciação esportiva III
13-14 anos
Mirim e infantil
Primeira Idade Puberal
Quinta e sexta séries
Iniciação esportiva II
11-12 anos
Pré Mirim e Mini
Primeira e Segunda Infância
Primeira segunda, terceira e quarta séries
Iniciação esportiva I
7-10 anos
Atividades recreativas
Quadro 1. Etapas do Desenvolvimento Esportivo (OLIVEIRA & PAES, 2004)2
De acordo com Oliveira & Paes (2004) a fase de Iniciação Esportiva I corresponde da 1.ª à 4.ª séries do ensino fundamental, atendendo crianças com idades entre 7 e 10 anos. O envolvimento das crianças nas atividades desportivas deve ter caráter lúdico, participativo e alegre, a fim de oportunizar o ensino das técnicas desportivas, estimulando o pensamento tático. Todas as crianças devem ter a possibilidade de acesso aos princípios educativos dos jogos e brincadeiras, influenciando positivamente o processo ensino-aprendizagem. Portanto, é compreensível que se devem evitar, nos jogos desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, pois estas exigem a perfeição dos movimentos ou gestos motores e também grandes soluções táticas. Paes (apud OLIVEIRA & PAES, 2004) afirma que as crianças para iniciarem esportivamente devem ter o domínio do corpo, a manipulação da bola, o drible, a recepção e os passes, podendo utilizar-se do jogo como principal método para a aprendizagem.
A fase de iniciação esportiva II é marcada pela aprendizagem de várias modalidades esportivas, atendendo crianças e adolescentes da 5ª à 7ª séries do ensino fundamental, com idades aproximadas de 11 a 13 anos, correspondente à primeira fase da adolescência. De acordo com os autores, como a fase de iniciação desportiva I visa à estimulação e à ampliação do desenvolvimento motor por intermédio das atividades variadas específicas, mas não especializadas de nenhum esporte, a fase de iniciação esportiva II estimula à aprendizagem de diversas modalidades esportivas, dentro de suas particularidades.
Já a iniciação esportiva III é a fase que corresponde à faixa etária aproximada de 13 a 14 anos, às 7ª e 8ª séries do ensino fundamental. Destaca-se que o desenvolvimento dessa fase, para os alunos/atletas, a automatização e o refinamento dos conteúdos aprendidos anteriormente, nas fases de iniciação esportiva I e II, e a aprendizagem de novos conteúdos, fundamentais nesse momento de desenvolvimento esportivo, como as regras e táticas do jogo.
Cabe ressaltar, novamente, que o professor de Educação Física deve ter compreendido essas etapas para iniciar seus alunos na vida esportiva. Isto porque, caso queira que as habilidades de seus alunos sejam desenvolvidas e aprimoradas é essencial o conhecimento desses conceitos.
Filgueira (2006) destaca as fases pelas quais as crianças passam na iniciação esportiva relacionada ao Futebol. Tal autor destaca que o futebol é um esporte muito complexo, por isso é muito importante que a criança, nos níveis de idade Fraldinha, Dentinho e Dente de Leite, tenham uma formação básica, e desenvolva de forma gradativa as habilidades físico-mentais como, consciência corporal, coordenação, flexibilidade, ritmo, agilidade, equilíbrio, percepção espaço-temporal e descontração.
Categorias de iniciação no futebol por idade
Fraldinha
7, 8 e 9 anos
Dentinho
9, 10 e 11 anos
Dente de Leite
11, 12 e 13 anos
Quadro 2. Categorias de Iniciação no Futebol por Idade (FILGUEIRA, 2006)3
Tais fases descritas por Filgueira (2006) também vão de encontro às outras fases da Iniciação Esportiva descritas por Oliveira & Paes (2004) e Almeida (apud RAMOS & NEVES, 2007). Estas fases estipulam idades, baseadas até mesmo nas fases do desenvolvimento infantil, para o desenvolvimento das habilidades existentes na prática esportiva. Isso é muito interessante de ser percebido, pois a criança não deve começar a prática esportiva na escola compreendendo regras de jogo, e sim se familiarizando com o esporte.
Filgueira (2006) destaca que no nível Fraldinha, o professor de Educação Física/Treinador deve estar atento aos objetivos de desenvolvimento da psicomotricidade como a formação de esquema corporal e trabalho com atividades naturais e recreativas. Sendo assim, ele cita atividade com o objetivo de desenvolver conhecimentos de espaço-temporal, lateralidade e domínio; desenvolver noções de tamanho, peso, altura, direção, profundidade e velocidade; e o ritmo.
Já no nível Dentinho, que abrange a faixa etária de 9 a 11 anos, Filgueira (op cit) destaca que é a melhor fase para aprendizagem motora. O treinamento físico nessa etapa tem o objetivo de aperfeiçoar os movimentos em geral como também os movimentos naturais ritmados. Isso se dá através de atividades dinâmicas e sem formalidades com técnicas simples e com grandes variedades de exercícios e incorporando às técnicas motoras aprendidas para desenvolver a criatividade do aluno.
Na outra etapa, Filgueira (op cit), denominada Dente de Leite, que abarca as idades de 11 a 13 anos, forma-se a criança para a atuação pré-desportiva, e ela passa a observar os fundamentos desportivos. Ela também desenvolve o período de formação motora específica e a formação corporal, educativo de corrida, rendimento, criatividade e formação física técnica. Neste período, o treinamento tem por objetivo a formação física de base e a formação dos fundamentos desportivos. As atividades desenvolvidas são desempenhadas através de exercícios com deslocamento utilizando bolas para desenvolver destrezas técnicas.
Portanto, assim como Oliveira & Paes (2004), Filgueira (op cit) divide em faixas etárias os períodos em que as crianças podem desenvolver os conhecimentos sobre o futebol e passar a conhecer suas fundamentações, regras e o jogo de uma forma geral. Inicialmente, como abordam os autores, a criança passa por um momento de adaptação, no qual ela deve criar condições para que o jogo seja importante em sua vida. Só a partir de então que se pode realizar a atividade do jogo em si. A iniciação esportiva, portanto, não é apenas apresentar o jogo para a criança, mas incentivá-la a entrar no jogo e a participar ativamente dessa atividade. Porém, essa introdução ao mundo do esporte deve ocorrer por etapas.
Para tal divisão em faixas etárias, é necessário haver conhecimento das fases de desenvolvimento da criança, já que ela passa por várias etapas em seu crescimento. Portanto, o professor/treinador deverá conhecê-las e tentar adequar seu trabalho às necessidades dos alunos.
A importância da prática esportiva do futebol para a criança
Etapas do desenvolvimento infantil
Desde a fecundação, o ser humano se desenvolve. Inicialmente seu corpo em formação ainda no interior da barriga da mãe, passa por diversas modificações que lhe dão uma forma: cabeça, braços e pernas, órgãos pele tecidos são formados e quando a criança finalmente nasce, após nove meses de gestação, seu corpo e sua mente deverá passar por modificações intensas. É possível perceber o crescimento da criança com apenas dias de nascido, mas o desenvolvimento da fala e dos movimentos só serão realmente concluídos após um longo período.
De acordo com a Cartilha "Saúde da Criança" (BRASIL, 2002, p. 11) considera-se o crescimento como ampliação do tamanho do corpo e, portanto, este crescimento só se encerra com a conclusão do aumento em altura (crescimento linear). Ou seja, pode-se dizer que o crescimento do ser humano é dinâmico e contínuo que vem desde a concepção até o final da vida.
Porém, como observado acima, quando se pensa em crescimento, acredita-se no crescimento físico. Mas, de acordo com a apostila "Crescimento e Desenvolvimento" (AMARAL, Documento sem data, p. 2) durante muito tempo, os termos crescimento e desenvolvimento foram considerados como conceitos separados; o primeiro contemplava os aspectos físicos, e o segundo, os aspectos mentais, em si tratando de Psicologia do Desenvolvimento. Contudo, a autora conclui e tais termos tratam do mesmo aspecto: do desenvolvimento orgânico e mental.
O desenvolvimento infantil ocorre desde os primeiros contatos com a família, com a cultura de determinada região, com os primeiros contatos escolares, com o convívio com outras crianças. Por isso, é comum dizer que a natureza do desenvolvimento humano é sempre biológica e cultural, isto porque o seu compor está em constante desenvolvimento e juntamente com isso, ocorre uma interação entre pessoas, e uma personalidade começa a se formar.
De acordo com Rosseti-Ferreira, Amorin & Silva "o processo de desenvolvimento humano encontra-se intimamente relacionado à articulação organismo – ambiente e, (…), este ambiente tem sido entendido enquanto um meio" (2000)4 . Neste aspecto, pode-se perceber que o desenvolvimento infantil, no aspecto cultural, tende a ocorrer a partir do nascimento. É compreensível que uma criança recém-nascida não possui entendimento de nada que ocorre ao seu redor, mas o meio já lhe influencia. Os estímulos provocados pelos sons, luzes e vozes já a fazem ter reações diversas. Com o passar dos meses ela reconhece as vozes familiares, já reconhece a figura materna e paterna, já consegue se mexer com intensidade.
"Considera-se crescimento orgânico um processo dinâmico que se expressa de uma forma mais visível pelo aumento do tamanho corporal. Todo ser humano nasce com um potencial genético de crescimento que poderá ou não ser alcançado, dependendo das condições de vida a que esteja exposto desde a concepção até a idade adulta. Portanto, o processo de crescimento está influenciado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais), dentre os quais se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança, que atuam acelerando ou retardando esse processo. Vemos, pois, que, apesar de expressar componentes biológicos, a forma como esse crescimento vai ocorrer depende em muito de fatores ambientais". (AMARAL, p. 3)5
Portanto, percebe-se que o desenvolvimento ou crescimento orgânico é um processo de interação com o meio, assim como o social/cultural. Dessa forma, possui duas dimensões: uma externa e outra, interna. Deste modo, a espécie humana tem determinadas características em seu desenvolvimento físico que incluem não só o que se percebe no exterior — por exemplo, a fala, o aumento do peso, a estatura, a mudança das feições, das características sexuais e da voz, mas, o que é interno e não se pode observar diretamente, como é o caso do cérebro, da aquisição de uma personalidade, uma forma de expressar o que se sente, o que se pensa.
Segundo a Cartilha "Saúde da Criança" (op cit), quanto mais jovem a criança, mais dependente e vulnerável ela é em relação ao ambiente que a cerca. Isso faz com que condições favoráveis ao crescimento sejam função, não apenas dos recursos materiais e institucionais com que a criança pode contar, como uma boa alimentação, moradia, saneamento básico, serviços de saúde, creches e pré-escolas com uma boa qualidade de ensino, mas também dos cuidados gerais, como o tempo que a família estabelece para um contato mais direto com a criança e a sociedade como um todo lhe dedicam.
Portanto, percebe-se que a criança é fruto do meio onde vive. Crianças que não possuírem uma boa educação ou cuidados básicos advindos de recursos materiais, terão seu desenvolvimento prejudicado.
No período escolar, a criança já se encontra maior e com um desenvolvimento cognitivo bem elevado. Isso proporciona uma maior interação, um maior desenvolvimento cultural e social e conseqüentemente, físico.
Todt (2006) afirma que podem se identificar duas faces na Iniciação Esportiva Infantil: uma que considera o esporte como elemento importante de cultura, com relevante importância nos programas educativos; e outra que o considera como um elemento de comparação, seleção e competitividade que conduz em certas circunstâncias a excessos, submetendo as crianças, durante a atividade esportiva, a responsabilidades de adultos, mas que fora deste contexto seguem sendo crianças.
Bordoni & Bojikian (2007) relatam que a atividade física tem sido muito indicada para promoção de saúde e melhora da qualidade de vida e aparenta bons efeitos nos níveis de saúde de crianças e adolescentes, porém destacam que existem evidências de que o treinamento físico em excesso tem efeito adverso sobre o crescimento, podendo levar a lesões por repetições de um mesmo movimento por dias, semanas e anos.
De acordo com Cardénas (documento sem data)6 "muito dos casos, as crianças em seus primeiros anos de prática esportiva, enfrentam treinamentos excessivamente exigentes, que não correspondem à idade e nível de maturação, sacrificando atividades que lhe são próprias."
Weineck (apud GIMENEZ & UGRINOWITSCH, 2002) destaca que a prática de atividades motoras inadequadas por parte de crianças e adolescentes pode acarretar uma série de problemas físicos, além de fatores que merecem preocupação dos profissionais que expõem essas crianças a atividades motoras exaustivas e repetitivas. Para isso, nota-se a importância do conhecimento das fases do desenvolvimento da criança. O profissional da Educação Física que estiver interessado neste processo de iniciação esportiva deve conhecer os limites da criança, bem como os processos fisiológicos que estão acontecendo a todo o momento na estrutura física e mental da criança. Caso contrário, problemas poderão ocorrer.
Tibola (apud RAMOS & NEVES, 2007) defende que nas várias fases do desenvolvimento, a motricidade, a afetividade, a sociabilidade e a inteligência passam por alterações e proporcionam características individualizadas em cada momento. O que difere de pessoa para pessoa é a magnitude desse desenvolvimento. O desenvolvimento físico é importante, mas é tanto quanto os aspectos sociais, psicológicos e culturais, competindo ao profissional de Educação Física trabalhar todos esses aspectos no que se refere à iniciação esportiva, pois através disso, pode-se considerar e formar o indivíduo de uma maneira completa.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 36) propõem que as relações que se estabelecem entre Saúde e Educação Física são perceptíveis ao se considerar a similaridade de objetos de conhecimento envolvidos e relevantes em ambas as abordagens. Dessa forma, a preocupação e a responsabilidade na valorização de conhecimentos relativos à construção da auto-estima e da identidade pessoal, ao cuidado do corpo, à consecução de amplitudes gestuais, à valorização dos vínculos afetivos e a negociação de atitudes e todas as implicações relativas à saúde da coletividade, são compartilhadas e constituem um campo de interação na atuação escolar.
Ferraz (1997) considera que a participação de uma criança em uma situação de jogo de regras implica, não somente, adesão a um sistema de recompensa e motivação mas, igualmente, consideração de um processo cognitivo extremamente complexo.
Filgueira & Schwartz (2007) apontam que no Brasil, o futebol é um fenômeno cultural que cativa às pessoas pela sua grandeza, e cuja prática tem crescido rapidamente, envolvendo um número significativo de participantes, desde a infância até a idade adulta, e assim sendo, na iniciação esportiva ao futebol, em um país como o Brasil, este esporte passa a ser enxergado de forma diferente.
As crianças estão acostumadas a seguir os passos dos pais. Se um pai gosta de futebol, a tendência é que ela o acompanhe no gosto e o incentivo à prática não irá surgir apenas da escola, mas do convívio familiar. Para o desenvolvimento da criança, do ponto de vista emocional, ter seu pai assistindo a um jogo seu, é muito bom, pois para ela isso indica cuidado e carinho. Ela se sentirá protegida e segura dos seus passos.
Portanto, as relações existentes nos jogos é de extrema importância par o desenvolvimento sadio da criança, pois as relações existentes neste período escolar auxiliam no crescimento de um indivíduo com bases emocionais e sociais para conviver em sociedade.
Importância da família no processo de iniciação esportiva
A escola possui um aspecto muito importante na vida da criança. É ela a instituição que auxiliará na formação de um novo cidadão para a sociedade, capaz de defender suas idéias, seu posicionamento, de cumprir normas, mas de saber seus direitos. Uma das funções da Educação Física Escolar, de acordo com os PCN's de Educação Física é que a escola, por meio dessas aulas, deverá garantir a formação de um cidadão consciente e ativo na sociedade. Darido et al (2001) destaca que é papel da Educação Física escolar eleger a cidadania como eixo norteador responsável pela formação de alunos, tornando-os capazes de: participar de atividades corporais adotando atitudes de respeito mútuo,dignidade e solidariedade; conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações da cultura corporal; reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria da saúde coletiva; conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e desempenho que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia; reivindicar, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer.
Todt (2006) analisa que o esporte exerce significativa influência nos processos de desenvolvimento desde a infância. A preparação de jovens atletas é uma etapa complexa dentro da Iniciação Esportiva, pois centra sua atenção nas relações interpessoais. Tal afirmação se comprava pelo fato do esporte abranger o jogo, seus objetivos, funções, meios, treinamentos, a comunicação no grupo, os tipos de vínculos que se estabelecem entre jogadores, técnicos, familiares e torcedores, além das próprias instituições, entre tantos outros pontos possíveis de serem investigados.
Filgueira & Schwartz (2007) afirma que em fase de iniciação, a criança precisa aprender e conviver com o esporte, vivenciar diferentes situações, construir idéias e valores, descobrir sentimentos e incorporar transformações sociais, afetivas, intelectuais e motoras essenciais para a formação do caráter do indivíduo e para o seu futuro esportivo. Todo esse processo de transferência e formação ocorre de forma natural e envolve a genética e a inter-relação social.
Para tais autores, os principais protagonistas das relações interpessoais na fase de iniciação esportiva estão os familiares, os quais compõem o que se convencionou chamar de "torcida familiar". Este tipo de torcida está envolvida no complexo processo que é a relação entre os pais e as crianças no âmbito da iniciação esportiva ao futebol.
Erickson (apud CAPITANIO, 2003), descreve que entre os seis e doze anos, existe uma fase de produtividade contra uma fase de inferioridade. Nesta fase, segundo o autor, a criança necessita de aprovação das figuras afetivas como: pais, professores, treinadores, nas suas tarefas (ler, escrever, calcular, nas habilidades sociais e esportivas, etc). Portanto, a interação existente neste período, tão importante para criança, segundo o autor, se baseia no que seus movimentos e suas atitudes irão representar para os adultos que a cerca.
De acordo com Cardénas (documento sem data)7 a influência que os pais têm sobre o atleta jovem é evidente. Eles são os responsáveis para que seu filho pratique um esporte ou outro, e por estas razões, a orientação psicológica aos pais é fundamental, durante a iniciação esportiva.
São eles que dão a base de todos os comportamentos da criança, de toda a sua postura frente à sociedade, de seu perfil, de sua base para a convivência com o próximo. O básico para a relação com o próximo é obtido no convívio com a família.
Nas relações humanas, as influências interpessoais desenvolvem-se como um processo que envolve componentes como os modos de ser, de pensar, de sentir, de agir e de mudança de comportamento. Dentre as relações mais primárias encontra-se o complexo processo que é a relação entre pais e filhos, especialmente quando se focaliza diretamente o âmbito da iniciação esportiva. Tanto a criança como os pais possuem valores, atitudes, condutas e expectativas semelhantes, os quais são resultados da qualidade dessa interação. Assim, compreender-se a qualidade do relacionamento interpessoal entre os envolvidos é de crucial importância no esporte, especialmente no que tange ao modo como os iniciantes percebem e interpretam a participação de seus pais durante a sua prática esportiva. (FIGUEIRA & SCHWARTZ, 2007, p. 246)
A presença dos pais nos treinos, de acordo com Filgueira & Schwartz (2007) nos jogos vai despertar alguma reação no atleta/criança:
A presença dos pais nos treinos, nos jogos, ou em qualquer outro lugar vai despertar alguma reação no atleta/criança, seja ela de contentamento ou constrangimento, de aprovação ou desaprovação. Segundo estudos da psicologia do esporte relata- se que algumas crianças podem se sentir incomodadas com a presença dos pais, enquanto outras se sentem bem com a presença dos familiares. Portanto, o relacionamento que o atleta tem e teve com os pais, o modo como este atleta foi criado, as lembranças, os acontecimentos, os fatos que marcaram sua vida, tudo isto pode exercer influência direta sobre o atleta e seu modo de agir, do início da atividade física até o treinamento e a competição. (FIGUEIRA & SCHWARTZ, 2007, p. 246)
No Brasil, o futebol é um fenômeno cultural que cativa e impressiona pela sua grandeza, e cuja prática tem crescido rapidamente, envolvendo um Número significativo de participantes, desde a infância até a idade adulta. Especificamente, na iniciação esportiva ao futebol, em um país como o Brasil, em que um único esporte.
A esse respeito, Machado (apud FILGUEIRA & SCHWARTZ, 2007) evidencia que a interação da criança na sociedade sofre influências, em primeira instância dos pais, depois, ao iniciar a vida escolar, sofre influências dos professores e de outros grupos, como por exemplo, de uma equipe esportiva.
Sobre a presença dos pais, Filgueira (apud FILGUEIRA & SCHWARTZ, 2007) salienta que estes deveriam passar tranqüilidade aos filhos e se divertirem, o que, geralmente, não acontece, já que ficam nervosos, gritam, criticam e alguns são, inclusive, violentos.
É fato poder afirmar que, para algumas crianças, a presença dos pais é importante para o seu desenvolvimento no processo ensino-aprendizagem-treinamento, contrariando alguns posicionamentos de senso comum, de que seria melhor se os pais não estivessem presentes durante as atividades esportivas das crianças, para se evitar esses constrangimentos acima relatados. (FILGUEIRA & SCHWARTZ, 2007)
Filgueira & Schwartz (2007) destacam que o relacionamento que o atleta tem e teve com os pais, o modo como ele foi criado, as lembranças, os acontecimentos, os fatos que marcaram sua vida, tudo isto vai influenciar o atleta e seu modo de agir, do início da atividade física até o treinamento e a competição.
Portanto, estas interações criadas pelos momentos do esporte são tão importantes para o crescimento da criança como a própria atividade física.
O envolvimento com pais, técnicos/professores, demais colegas de treino, possibilitam o crescimento intelectual, emocional e social da criança.
Conclusão
A prática esportiva do futebol é iniciada antes mesmo de haver contato com a escola. As crianças se deixam influenciar pelo gosto dos pais, jogam futebol quando crianças, brincam e se divertem antes mesmo de conhecer regras e atitudes que se deve ter em campo. Iniciar esportivamente uma criança no futebol, não significa ensiná-la a chutar, a fazer gols e a correr. Significa incentivá-la a saber trabalhar em equipe, ter disciplina, conhecer as regras do jogo e respeitá-las. Além de ensinar conceitos sobre o jogo, a prática do futebol a prepara para a vida. Enquanto pensa-se que é uma atividade lúdica, a criança aprende vários conceitos que usará para toda a sua vida nas aulas de iniciação esportiva.
Destaca-se a importância do futebol como precursor de um cidadão que deverá saber seus direitos e deveres na sociedade em que vive. Isto porque, através da prática desta atividade física, são estabelecidas regras essenciais não apenas ao jogo, mas a própria vida em sociedade. Respeitar o próximo, não roubar, observar as faltas que comete e lutar para que não cometa mais, obedecer aos superiores, são regras que não são válidas apenas para o jogo, mas para a convivência em sociedade. Portanto, o Futebol não é apenas diversão. É um esporte que possibilita o crescimento psicossocial da criança.
Observou-se que apesar de ser uma atividade que promove o crescimento da criança, existem divisões de acordo com a faixa etária, que podem servir como orientação à iniciação esportiva, o que acarreta no fato de estabelecer objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação diferenciados para as diferentes fases de crescimento da criança. Ou seja, a uma criança de 7 anos não se deve ensinar o que se ensinaria para um pré-adolescente. A infância é uma etapa da vida dividida em fases, e o professor de Educação Física deve conhecê-las. Para que tal conhecimento possa ocorrer é de suma importância que o professor de Educação Física sempre esteja se capacitando e procurando observar sua importância no processo de iniciação esportiva, já que é ele quem estará em contato direto com a criança, sendo seu "treinador" e orientador do processo esportivo.
Notas
Texto intitulado: "Educação através da Prática Esportiva – Missão Impossível?" Disponível no site: http://www.efdeportes.com/efd58/esport.htm. Acesso em: 13 ago 2008.
Texto Intitulado: A pedagogia da iniciação esportiva: um estudo sobre o ensino dos jogos desportivos coletivos. Disponível no site: http://www.efdeportes.com/efd71/jogos.htm. Acesso em: 13 ago 2008
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Texto intitulado: "A Psicologia como Ciência Aplicada à Iniciação Esportiva". Disponível em: http://psicodeporte.net
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AUTORES:
Prof. Paulo Sérgio Gazola Quintas*
psgazola85@yahoo.com.br
Prof. Dr. Robélius De Bortoli**
robelius@ufs.br
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