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A competição na Educação Física escolar







A Educação Física é compreendida como disciplina escolar obrigatória e integrada à proposta pedagógica da escola (OLIVEIRA, 2002). De acordo com as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) promulgada em 20 de Dezembro de 1996, a Educação Física é uma disciplina que deve ser desenvolvida durante toda a escolaridade (Lei Nº 9.394 – 1996). Visto isso, a educação física como matéria curricular possuí conteúdos de ensino. Conteúdos são aqueles que formam a base objetiva da instrução-conhecimento sistematizada e são viabilizados pelo método de transmissão e assimilação (DARIDO, 2005). 

Segundo Bracht 2001 dentre os vários conteúdos relacionados da educação física escolar, o esporte é o que de certa forma se privilegia. O que gera muita discussão em torno do assunto "esporte na escola". 

A competição no meio educacional gera diversos questionamentos, que são refletidos na aceitação/negação por parte dos professores de Educação Física escolar. Enquanto alguns defendem a presença de atividades competitivas, outra parcela desses profissionais evita promover exercícios cujo espírito competitivo se faz presente. Dessa forma, se a competição é um dos conteúdos do Esporte e este da Educação Física, é evidente que haverá limitação num processo de ensino do Esporte no qual os aspectos competitivos não sejam contemplados. (JUNIOR, 2009). 

Neste sentido, a competição gerada pelos esportes na Educação Física escolar tem seu lado positivo e seus lado negativo . Para Marzinek e Neto (2007), o esporte e a competição são fatores internos de motivação intrínsecos, como por exemplo: força de vontade, prazer em realizá-los e atingir objetivos durante uma aula de Educação Física. Já para o Junior (2009) a competição exacerbada resultante do esporte, pode seguir uma ordem natural do afastamento de alunos que encontram maiores dificuldades para realizar as atividades. 

O objetivo geral do presente estudo foi o de compreender o esporte na Educação Física escolar. E teve como objetivo específico, descrever os pontos positivos e negativos da competição gerada pelos esportes na Educação Física escolar no ensino fundamental. 

Materiais e métodos 

O estudo realizado sobre esporte na educação física escolar configura-se como uma pesquisa de delineamento bibliográfico e natureza exploratória a partir de livros, artigos científicos e dissertações de mestrado, realizada entre o ano de 1996 a 2011. Os dados retirados de livros encontrados na Biblioteca Reitor João Herculino do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e de artigos científicos e algumas dissertações/monografias contidas em sites de busca cientifica como o Google Acadêmico e Scielo. A partir de leitura exploratória foi possível fazer a coleta de informações e dados para a realização do trabalho. 

As palavras utilizadas como chave de pesquisa para o presente estudo foram educação física escolar, esporte e competição. Através de leitura exploratória, seletiva e analítica para pesquisar artigos e livros que tivessem semelhança com o tema do trabalho, foi possível fazer uma fundamentação teórica aprofundada sobre o assunto da pesquisa, corroborando várias idéias de autores e por vezes confrontando-as a partir de leitura interpretativa. 

Revisão de literatura 

A revolução industrial ocorrido na Inglaterra pode ser o marco histórico para o surgimento do fenômeno esportivo (JUNIOR 2009). 

Segundo Bracht (2005) estas características da industrialização e da rápida urbanização provocaram muitas mudanças nos conteúdos simbólicos vigentes da população inglesa, que passaram por um processo de esvaziamento culminando com o declínio de "passatempos", ocorrendo uma transformação/esportivização nos mesmos e se espalhando por toda Europa. 

Neste sentido, com a rápida modernização e com processos sociais como o liberalismo, as características sociais da época foram incorporadas ao esporte, características como: nacionalismo busca insaciável de recordes, treinamentos baseados na ciência e princípios da competição, características vigentes até os tempos atuais (JUNIOR 2009). 

Educação Física: Ensino Fundamental 

Segundo a LDB (Nº 9.934) A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, de modo a contribuir para o desenvolvimento do organismo e da personalidade do educando. Os sistemas de ensino promoverão, em todos os níveis (Art.37) o desporto educacional e as práticas desportivas não formais, tendo como objetivo a formação integral para a cidadania e o lazer, evitada as características de seletividade e competitividade de outras manifestações desportivas. 

Compreender a educação física no ensino fundamental e compreender o processo educacional em sua totalidade significa que, é preciso construir uma educação física que seja para todos os alunos e se realize com todos os alunos. A viabilidade de este novo olhar exige novas reflexões, conhecimentos, criticidade, disponibilidade e dinamismo (BARBOSA 2009). 

Embora numa aula de Educação Física os aspectos corporais sejam mais evidentes, mais facilmente observáveis, e a aprendizagem esteja vinculada à experiência prática, o aluno precisa ser considerado como um todo no qual aspectos cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados em todas as situações (Brasil, 1997). 

Segundos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's), dentro de uma mesma linguagem corporal, um jogo desportivo, por exemplo, é necessário saber discernir o caráter mais competitivo ou recreativo de cada situação, conhecer o seu histórico, compreender minimamente regras e estratégias e saber adaptá-las. Por isso, é fundamental a participação em atividades de caráter recreativo, cooperativo, competitivo, entre outros, para aprender a diferenciá-las (Brasil, 1997). 

Histórico no Brasil 

No Brasil a Educação Física começou a buscar o lado esportivo devido ao período de interesses políticos, na época (década de 1960) o governo, aplicava o esporte de maneira tecnicista, tornando-o tão comum nesse meio, além do esporte estabelecer o contato dos alunos com regras a serem seguidas. (BARBOSA, 2009). No fim da década de 1960 e início da década de 1970, o desporto competição, criado pelo estado novo, ganhou força no Brasil, pois tinha como objetivo a formação de um homem ideal espelhado no atleta (SANTOS e FIGUEIREDO, 2011). Porém já nessa época, havia pessoas que criticavam essa "esportivização" da Educação Física escolar (GUERIERO e ARAÚJO, 2004). 

Com tantas críticas então, a prática de educação física passou a ser a partir de conhecimentos trazidos pela psicomotricidade, que pretendia substituir a educação física totalmente esportivizada. Já na década de 1980, com todas essas mudanças, começou a aparecer novos conceitos como cultura corporal, cultura física e cultura do movimento (SOARES, 1996). 

Ao longo do século XX o esporte mesmo tendo ligação com a Educação Física escolar desde o princípio tornou-se independente, porém nos últimos tempos voltou a ser a principal expressão da Educação Física na escola, voltou a ter sua hegemonia dentro das aulas tornando o conteúdo mais utilizado pelos professores (SOARES, 1996). 

Contudo para Barbosa (2009) possui a visão de que a Educação Física escolar não consegue "viver" sem a competição devida suas atividades esportivizadas. Gerando muita discussão em torno do assunto, gerando opiniões a favor e contra a competição (JUNIOR, 2009). 

Desta forma podemos analisar as idéias de vários autores contra (quadro 1) e a favor (quadro 2) do esporte competitivo nas aulas de educação física escolar.
Quadro 1. Pontos considerados negativos dentro das aulas de EF

Quadro 2. Pontos considerados positivos dentro das aulas de EF
    As aulas de EF se constituem em grande parte da prática de desporto (VILAÇA, 2006). O esporte como conteúdo escolar traz a competição, para Scaglia et al. (2001) a competição tem que ser entendida como conteúdo a ser aprendido por todos. Desta forma, existe uma parcela dos professores de educação física que defendem a competição como conteúdo escolar, por outro lado, outros professores são contra, por exemplo: os prós competição destacam as vantagens e benefícios, enquanto os contrários levantam aspectos negativos (Junior 2009).
    Para Soares e Montagner (2009) as crianças na maior parte gostam de atividades competitivas, pois se sentem fascinadas. E quando bem utilizada, a competição se torna uma valiosa ferramenta na formação do caráter, tornando a criança participativa, autêntica e criativa. Já para Barbosa (2009) na atividade competitiva falta cooperação, sentimento de grupo e expressão da criança.
    Em relação ao aspecto social para Vilaça (2006) as regras fixas da competição estabelecem dentro de um âmbito escolar um importante papel pedagógico: ensinar os alunos a respeitarem as regras. Enquanto que para Leite (2010) o esporte reproduzido na escola não é o esporte com ideais sociais e educativos, mas apenas o de rendimento, que leva a vitória e derrotas, sucesso de poucos e fracasso de muitos.
    Para Capitanio (2003) o esporte traz vitórias, derrotas e que se não visto com um olhar amplo e crítico dentro da aula de educação física, pode ser prejudicial aos que praticam. Porém Soares (2008) afirma que a competição dentro do esporte, é um rico e vasto conteúdo da nossa área, podendo trazer de forma sadia, educativa um bom desenvolvimento dos praticantes, criando um ambiente favorável a esse objetivo, auxiliando a formação de caráter, autonomia e melhorando sua auto-estima.
    Segundo Scaglia et al. (2001) um importante princípio pedagógico é o de ensinar os alunos a competirem, tornando a mesma um conteúdo equilibrado, para que todos os participantes possam participar e ter a chance de ganhar.
    Soares (2003) afirma também que as aulas de educação física não podem ser aquelas em que se "prepara" os alunos para competições, ou seja, não pode ser encarada como treinamento, pois assim perde o caráter da aula sadia, na qual há processos de socialização.
    Segundo Reverdito et al., (2008) a competição não é boa ou ruim, mas sim o que fazemos dela. Por exemplo, em nossa sociedade podemos perceber o esporte como algo em que se busca a realização pessoal do praticante (NEUENFELDT; CANFIELD, 2001).
    Benetti et. al. (2005) mostra que a prática de esportes leva a alguns benefícios e contribuições tanto na parte física como na mental. As crianças têm uma ótima habilidade para desenvolver técnicas de motricidade esportiva, o aumento e a experiência do número de movimentos devem ser prioridades no treinamento esportivo com crianças, em razão do rápido desenvolvimento do cérebro e da subseqüente capacidade elevada de desempenho no campo das atitudes de coordenação.
    Durante esta etapa de desenvolvimento, as crianças são velozes, tem boa capacidade de concentração e de diferenciação de movimentos. Além disso, possuem uma aquisição refinada de informações, o que favorece a aprendizagem e habilidades específicas dos esportes (BENETTI et. al., 2005).
    De acordo com a Federação Internacional de Medicina Esportiva existem várias modificações fisiológicas para as crianças decorrentes do exercício físico decorrente do esporte. Existe a possibilidade de haver a hipertrofia do músculo cardíaco e de suas fibras e conseqüente ganho de força de contração, proporcionando a queda na freqüência cardíaca.
    As vezes, o esporte, com aquele entendimento de atividade metódica dentro de uma circunstância, provoca saúde ou bem estar em nível psicomotor, mas não em nível social. Porém o esporte visto por outro lado também promove a saúde porque é um campo ou um momento em que as relações sociais das pessoas são favorecidas (BARRETO, 2003).
Considerações finais
    Contudo exposto nesse estudo, percebe-se o quão importante é a o equilíbrio dos vários conteúdos existentes na Educação Física escolar. Porém fica claro o esporte como um dos conteúdos mais regido durante as aulas de Educação Física. Com tantas características envolvidas no esporte é possível destacar a competição como o principal ponto a ser discutido, devido a tantos argumentos pró e contra a atividade competitiva.
    Porém a prática de educação física não deve ser baseada apenas em um conteúdo. A tentativa de agregação de outros fatores dentro de uma aula de EF é de suma importância, de modo a orientar o aluno a estabelecer contato com vários tipos de vivências, apresentado à ele mais tipos de expressões corporais.
Bibliografia
  • BARBOSA, S. C.; MATOS, D. G. de; SAVÓIA, R. P.; ZANELLA, A. L.; BELLONI, D. T.; FILHO, M. L. M. A Esportivização da Educação Física no Ambiente Escolar. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 14 - Nº 133 - Junho de 2009. http://www.efdeportes.com/efd133/a-esportivizacao-da-educacao-fisica.htm
  • BARRETO, S. M. G. Esporte e Saúde. Centro de Divulgação Científica e Cultural. 2003.
  • BENETTI, G.; SCHNEIDER, P.; MEYER, F.; OS BENEFÍCIOS DO ESPORTE E A IMPORTÂNCIA DA TREINABILIDADE DA FORÇA MUSCULAR DE PRÉ-PÚBERES ATLETAS DE VOLEIBOL. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano. 2005.
  • BRACHT, V. Esporte na Escola e Esporte de Rendimento. Movimento - Ano VI - Nº 12 - 2000/1.
  • BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 3. ed. Ijuí: Ed. da Unijuí, 2005.
  • CAPITANIO, A. M. Educação Através da Prática esportiva: missão impossível?. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 8 - N° 58 - Março de 2003. http://www.efdeportes.com/efd58/esport.htm
  • DARIDO, S. C. Os conteúdos da Educação Física escolar: influências, tendências dificuldades e possibilidades. Perspectivas da Educação Física escolar. UFF, v.2, n.1, p. 5-25, 2001.
  • FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE MEDICINA ESPORTIVA. Treinamento físico excessivo em crianças e adolescentes. Revista brasileira de medicina do esporte 1997.
  • GUERIERO, D. J.; ARAÚJO, P. F. A. Educação física escolar ou esportivização escolar? EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 10 - N° 78 - Novembro de 2004. http://www.efdeportes.com/efd78/esportiv.htm
  • JUNIOR, N. A. A. A competição e a educação física escolar. 2009. 57f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)-Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
  • LEITE, E. A. O Esporte na escola: sua realidade e possibilidade de mudanças. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 14 - Nº 142 - Março de 2010. http://www.efdeportes.com/efd142/o-esporte-na-escola.htm
  • MARZINEK, A.; NETO, A. F. A Motivação de Adolescentes nas Aulas de Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 11 - N° 105 - Fevereiro de 2007. http://www.efdeportes.com/efd105/motivacao-de-adolescentes-nas-aulas-de-educacao-fisica.htm
  • NEUENFELDT, D. J.; CANFIELD, M. S. Repensando o Esporte na Educação Física Escolar a partir de Cagigal. Revista Movimento, p.28-36. 2001.
  • OLIVEIRA, D. T. R. de. Por Uma Ressignificação Crítica do Esporte na Educação Física: Uma Intervenção na Escola Pública. Dissertação de Mestrado da Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física. Campinas, SP : [s. n.] 2002.
  • REVERDITO, R. S.; SCAGLIA, A. J.; SILVA, S. A. D. da; GOMES, T. M. R.; PESUTO, C. de L.; BACCARELLI, W. Competições Escolares: Reflexão e Ação em Pedagogia do Esporte para Fazer a Diferença na Escola. Pensar a Prática, 11/1: 37-45, jan./jul. 2008.
  • SCAGLIA, A. J.; MONTAGNER, P. C.;SOUZA, A. J. Pedagogia da competição em esportes: da teoria à busca de uma proposta prática escolar. Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 20-30, 2001.
  • SANTOS, V. E. A.; FIGUEIREDO, P. K. Histórias de práticas pedagógicas: a coleção de professores do curso de educação física da UFS (1970-1984). V ESEB – 03 a 05 de outubro de 2011.
  • SOARES, C. L. Educação física escolar: conhecimento e especificidade. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996.
  • SOARES, F. C.; MONTAGNER, P. C. A Competição Esportiva Escolar como Componente Pedagógico a Ser Refletida e Aplicada nas Aulas de Educação Física, Motriz, Rio Claro, v.15, n.2 (Supl.1), p.S1-S456, abr./jun. 2009.
  • VILAÇA, M. M. Educação Física Desportivista: Considerações Críticas à Prática, Predominantemente Vigente, de Educação Física Escolar. X EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar, 2006.

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