A lateralidade é um dos pilares do desenvolvimento psicomotor infantil. Ela influencia diretamente a coordenação, a escrita, a leitura, a orientação espacial, a postura e até o comportamento. No entanto, para muitos professores, o conceito ainda parece abstrato — e seu impacto, subestimado.
Neste artigo, vamos esclarecer o que é lateralidade, por que ela importa e como desenvolvê-la de forma prática e estruturada nas aulas de Educação Física.
1. O que é lateralidade?
A lateralidade é a definição do lado dominante do corpo, ou seja, a preferência que a criança desenvolve em usar:
-
uma das mãos;
-
um dos pés;
-
um dos olhos;
-
um dos ouvidos.
Essa definição não é aleatória: trata-se de um processo neurológico, ligado à especialização hemisférica do cérebro.
O hemisfério dominante coordena movimentos mais precisos e eficientes daquele lado do corpo.
Os três tipos de lateralidade
-
Homogênea: quando todos os segmentos dominantes são do mesmo lado (ex.: mão direita, pé direito, olho direito).
-
Cruzada: quando os lados dominantes se alternam (ex.: escreve com a direita, mas chuta com a esquerda).
Indefinida: quando não há lado dominante claro — e aqui começam os problemas.
2. Por que a lateralidade importa tanto?
A lateralidade não é apenas uma preferência — ela é uma organização cerebral que:
📍 Estrutura a percepção espacial
Sem lateralidade definida, a criança tem dificuldade para entender:
-
direita/esquerda;
-
posições no espaço;
-
deslocamentos;
-
direções em jogos e brincadeiras.
Isso afeta tanto a aula de Educação Física quanto o cotidiano escolar.
✍️ Prepara para a escrita
Escrever exige:
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definição da mão dominante;
-
controle postural;
-
orientação espacial;
-
coordenação fina bilateral.
Crianças sem lateralidade definida podem:
-
trocar letras;
-
inverter direções;
-
cansar mais rápido ao escrever;
-
apresentar traços desorganizados ou ilegíveis.
👁️ Melhora o desempenho motor
A lateralidade é necessária para:
-
equilíbrio;
-
movimentos precisos;
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lançamentos e recepções;
-
uso eficiente da força;
-
ritmicidade;
-
organização do corpo no espaço.
🧠 Aprimora a aprendizagem
A lateralidade também interfere em:
-
atenção;
-
planejamento motor;
-
memória espacial;
-
compreensão de instruções.
Por isso, crianças com lateralidade indefinida podem parecer:
-
“desatentas”,
-
“lentas”,
“desorganizadas”,
quando, na verdade, estão com uma estrutura motora imatura.
3. Quando a lateralidade se define?
Embora haja preferências iniciais, a lateralidade tende a se consolidar entre:
-
4 e 7 anos – fase da Educação Infantil e início do Fundamental.
Mas cada criança tem seu ritmo.
O importante é não apressar, não forçar e não “ensinar” o lado preferido.
O papel do professor é oferecer experiências bilaterais variadas, organizadas e intencionais.
4. Como identificar sinais de lateralidade indefinida?
Observe se a criança:
-
troca constantemente a mão ao manipular objetos;
-
usa uma mão para algumas tarefas e outra para as mesmas tarefas em outro momento;
-
muda o pé de chute;
-
alterna o olho dominante ao apoiar-se;
-
apresenta dificuldade em cruzar a linha média;
-
tem postura instável ao escrever ou desenhar;
-
se confunde com direções simples.
Esses sinais indicam que ela precisa de mais vivências corporais organizadas, especialmente nas aulas de EF.
5. Como desenvolver lateralidade nas aulas de Educação Física?
A lateralidade não se ensina, se constrói por meio de experiências corporais que cruzam, comparam e organizam lados.
Aqui estão estratégias práticas e eficazes:
A) Atividades que cruzam a linha média
Fundamentais para integrar os dois hemisférios cerebrais.
-
tocar mão direita no joelho esquerdo;
-
cruzar braços e pernas;
-
jogos de imitação cruzada;
-
passar bolas de um lado para o outro do corpo;
circuitos com mudanças de direção e giros.
B) Sequências comandadas com direita e esquerda
Exemplos:
-
“Pise com o pé direito, salte com o esquerdo, gire para o lado direito”.
-
Caminhar ao som de comandos de direção.
Cartazes coloridos para indicar lados.
C) Jogos de manuseio
Estimular alternância e comparação entre lados:
-
lançar e receber com mão direita e depois com a esquerda;
-
chutar com ambos os pés;
-
conduções simples com bola;
transportar objetos alternando mãos.
D) Atividades bilaterais
Ajudam a perceber diferenças de força, precisão e controle.
-
segurar corda com as duas mãos;
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usar bambolês em movimentos simétricos;
-
exercícios de empurrar/puxar;
deslocamentos em quatro apoios.
E) Brincadeiras tradicionais
As melhores ferramentas naturais de lateralidade:
-
amarelinha (pular com um pé e depois com o outro);
-
pular corda;
-
jogo de estátua com posições laterais;
circuito de equilíbrio com mudança de apoio.
6. Cuidados importantes ao trabalhar lateralidade
❌ Nunca forçar que a criança “escolha um lado”.
❌ Nunca obrigar a usar um lado “por ser mais comum”.
❌ Nunca corrigir a criança canhota para usar a mão direita.
O processo é interno e neurológico — não é pedagógico.
O professor cria o ambiente, a experiência e o estímulo, mas quem define a lateralidade é o corpo da criança.
7. Relação com a BNCC
A lateralidade está diretamente ligada ao campo Corpo, Gestos e Movimentos, especialmente em habilidades como:
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reconhecimento de partes do corpo;
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controle e coordenação motora;
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orientação espacial;
-
exploração do movimento;
-
participação em jogos e brincadeiras.
É também pré-requisito para habilidades de Traços, Sons, Cores e Formas, já que impacta a escrita e manipulação de materiais.
Conclusão: lateralidade é mais do que “direita e esquerda” — é organização corporal para aprender e viver
Ao trabalhar lateralidade, você ajuda a criança a desenvolver:
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percepção corporal;
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segurança motora;
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atenção e planejamento;
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controle postural;
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habilidades para escrita e leitura;
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autonomia nas brincadeiras e na vida.
É um investimento essencial, discreto, mas profundamente transformador no desenvolvimento infantil.
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