A Coordenação Motora é uma das competências mais relevantes na Educação Infantil, pois influencia diretamente a autonomia, a autoestima, a participação nas brincadeiras e até a aprendizagem escolar futura. No entanto, é comum que professores — especialmente os que trabalham com muitas turmas — não tenham clareza sobre o que diferencia coordenação global e fina, nem sobre como estimulá-las de forma equilibrada nas aulas.
Neste artigo, vamos aprofundar esses conceitos, explicá-los de forma prática e mostrar como desenvolvê-los no cotidiano da Educação Física escolar.
1. O que é Coordenação Motora Global?
É a habilidade de realizar movimentos amplos com o corpo todo ou com grandes segmentos corporais (braços, pernas, tronco). Envolve:
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equilíbrio;
-
força geral;
-
ritmo;
-
deslocamentos;
-
controle postural;
-
dissociação dos movimentos.
A coordenação global permite que a criança corra, salte, role, arremesse, escale, dance, se apoie e se desloque com segurança.
Por que é fundamental?
Porque ela é a base para todas as habilidades motoras mais complexas e para funções escolares como:
-
manter-se sentada com boa postura;
-
sustentar atenção sem fadiga corporal;
-
participar de jogos organizados;
-
construir lateralidade e percepção espacial;
-
desenvolver habilidades esportivas futuras.
Sem coordenação global desenvolvida, a criança aparece como “desatenta”, “inquieta”, “desajeitada” — quando na verdade está apenas imatura motoramente.
2. O que é Coordenação Motora Fina?
É a habilidade de realizar movimentos pequenos, precisos e delicados, geralmente envolvendo mãos, dedos e controle ocular.
Inclui:
-
pegadas variadas;
-
manipulação de objetos pequenos;
-
recorte;
-
traços;
-
encaixes;
-
movimentos isolados de dedos e mãos.
Por que é essencial?
Porque ela prepara a criança para:
-
escrita;
-
desenho;
-
uso funcional de materiais escolares;
-
autonomia no cotidiano (amarrar, abotoar, abrir, fechar);
-
manipulação de bolas pequenas, cordões, argolas etc.
A escrita, especialmente, depende de três pilares finos: preensão, dissociação e controle tônico — todos treinados no brincar.
3. Diferenças fundamentais (e por que não podemos “pular etapas”)
A coordenação global amadurece antes da fina.
É impossível ter movimentos precisos (coordenação fina) sem estabilidade e organização do corpo (coordenação global).
Por isso, a Educação Física desempenha um papel crucial: construir a base global para que o refinamento manual seja possível.
4. Como estimular a Coordenação Motora Global nas aulas de Educação Física
a) Circuitos com deslocamentos variados
Exemplos:
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correr em zigue-zague
-
saltar obstáculos baixos
-
caminhar sobre linhas ou cordas
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rastejar, rolar, escalar ou subir em superfícies seguras
Esses movimentos trabalham equilíbrio, lateralidade e dissociação.
b) Jogos com bolas grandes
-
chutões
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lançamentos com as duas mãos
-
passes por cima e por baixo
-
quicar bola em trajetos
Estimula força global, visão-percepção e tempo de reação.
c) Atividades rítmicas
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marchas
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danças simples
-
bater palmas em sequência
Ritmo organiza tempo e melhora a fluência do movimento.
d) Brincadeiras tradicionais
-
pega-pega
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estátua
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corda (individual e coletivo)
-
amarelinha
São excelentes para coordenação, equilíbrio e percepção espacial.
5. Como estimular a Coordenação Motora Fina na Educação Física
Embora muitos pensem que coordenação fina só acontece na sala de aula, ela pode (e deve) ser estimulada também no ambiente da EF.
a) Manipulação de pequenos materiais
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argolinhas
-
tampinhas
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pequenos saquinhos de arroz
-
mini bolinhas
Trabalham pinça, força dos dedos e precisão.
b) Jogos de lançar e receber objetos pequenos
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bolinhas de meia
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esponjas
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feijões ou sementes dentro de potinhos
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mini-alvos com cones ou caixas
Isso desenvolve coordenação óculo-manual.
c) Atividades de amarração, encaixe e transporte
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transportar objetos pequenos com colheres
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encaixar argolas em pinos
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montar pequenas estruturas
-
usar pregadores para prender cartelas
Excelente para força, dissociação e controle fino.
d) Trabalhos bilaterais
Atividades que exigem as duas mãos simultaneamente:
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transferências de objetos
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enrolar cordão
-
segurar e lançar com mãos alternadas
Favorecem integração hemisférica, fundamental para leitura e escrita.
6. Como organizar um plano de aula que desenvolva as duas coordenações
Uma aula completa pode seguir a seguinte estrutura:
1. Aquecimento Global (5 minutos)
Movimentos amplos, corridas leves, comandos posturais.
2. Atividade Principal Global (10 minutos)
Circuitos, jogos de bola ou brincadeiras tradicionais.
3. Atividade Fina (5–7 minutos)
Manipulações, arremessos pequenos, tarefas de precisão.
4. Retorno à calma (2–3 minutos)
Respiração, alongamentos leves, organização corporal.
Esse equilíbrio garante desenvolvimento integral, sem sobrecarregar nenhuma habilidade.
7. Sinais que mostram que a criança precisa de mais estimulação
-
derruba objetos com frequência;
-
tem dificuldade em usar materiais escolares;
-
apresenta rigidez corporal;
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não sustenta postura sentada;
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escorrega ou cai facilmente;
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dificuldade em atividades rítmicas;
-
não consegue realizar lançamentos ou recepções simples.
A dificuldade não é “preguiça” — é imaturidade motora, e nós podemos ajudar.
8. Relação com a BNCC
A coordenação motora aparece em vários campos de experiência:
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Corpo, Gestos e Movimentos
-
Traços, Sons, Cores e Formas
-
O eu, o outro e o nós
E se conecta diretamente a habilidades como:
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exploração de diferentes formas de movimento;
-
manipulação de objetos;
-
expressividade corporal;
-
resolução de desafios motores;
-
reconhecimento do corpo e sua funcionalidade.
Trabalhar coordenação é trabalhar BNCC em sua essência.
Conclusão: duas coordenações, um único objetivo — desenvolvimento integral
Quando o professor estimula tanto coordenação global quanto fina, ele:
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prepara a criança para aprender melhor;
-
aumenta a autonomia nas tarefas;
-
fortalece o corpo para brincadeiras e esportes;
-
melhora a postura e o comportamento;
-
favorece interação, comunicação e confiança.
O movimento é o primeiro caminho da aprendizagem — e a coordenação motora é o alicerce dessa construção.
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