A criança vem ao mundo com possibilidades que sendo estimuladas resultam em capacidades, que influenciam em um bom ou mau desenvolvimento, de acordo com sua interação com o mundo. Segundo Papalia e Sally (1981), a moderna ciência do desenvolvimento visa principalmente às mudanças comportamentais e o porque que as mesmas ocorrem. De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), o desenvolvimento é um processo permanente que se inicia na concepção e cessa somente na morte.
Antes de partir diretamente às propostas de aulas, é importante caracterizar melhor a infância, em seu processo de desenvolvimento e suas diversas manifestações. Se os professores conhecerem melhor como entende e como age uma criança de certa faixa etária, podem planejar melhor a aula, visando um melhor aprendizado por parte da criança.
Gallahue e Ozmun (2003: 07), dizem que "o desenvolvimento é relacionado à idade, mas não depende dela"; pois, o momento de desenvolvimento de um indivíduo, muitas vezes não é compatível com a maioria. Logo, deve-se respeitar o processo de crescimento e desenvolvimento de cada criança. A idade é um dado, a qual características semelhantes do desenvolvimento podem ser observadas, porém não deve ser analisado como um recurso rígido e inflexível, já que muitos outros fatores devem ser analisados e levados em consideração.
Fatores do ambiente envolvem a criança influenciando-a diretamente em seu desenvolvimento. O ambiente influencia o indivíduo. Alguns fatores do ambiente estão relacionados à cultura da sociedade; ao relacionamento afetivo mais próximo (relação com os pais e outras pessoas que a cercam); nutrição (para um bom funcionamento do organismo); assim como estímulos que são dados à criança.
Com base na teoria desenvolvimentista, o indivíduo deve ser analisado em sua totalidade, considerando a interação das esferas cognitiva, afetiva e psicomotora; os fatores relacionados ao ambiente, a perspectiva biológica e faixa etária, não desvinculando uma esfera das outras. A faixa etária significa apenas dados, onde certas características podem ser observadas, mas não deve-se desconsiderar a individualidade e especificidade. De acordo com a teoria desenvolvimentista, embora as áreas do comportamento sejam separadas para o estudo, não podem ser desvinculadas uma das outras porque são dependentes no aspecto do desenvolvimento humano.
Desenvolvimento cognitivo
A área cognitiva está relacionada ao potencial que o indivíduo tem para a aprendizagem; e é um produto da interação de fatores genéticos e ambientais, segundo Papalia e Sally (1981), que relatam que a inteligência é uma interação ativa da capacidade herdada e a experiência ambiental, resultando em um indivíduo capaz de adquirir lembrar e usar conhecimento; de entender conceitos concretos e abstratos; de entender relacionamentos entre objetos, eventos e idéias e aplicar este entendimento; e o uso de tudo acima no cotidiano.
Piaget, em suas obras coloca que o movimento é um agente básico na formação de estruturas cognitivas crescentes, basicamente na primeira infância e nos anos pré-escolares (SANTIAGO, 2005). Sua teoria é uma das mais populares entre os estudiosos sobre o desenvolvimento cognitivo na infância. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo se refere ao funcionamento do desenvolvimento biológico. Em sua teoria, Piaget considera que a atividade biológica e a atividade intelectual fazem parte de um processo global, onde a pessoa faz adaptações e organizações em sua interação com o mundo, ou seja, o comportamento mental é atribuído ao comportamento biológico, segundo o autor. O autor caracteriza que o desenvolvimento cognitivo é constituído por três componentes:
Conteúdo: que representa algo observável;
Função: refere-se a assimilação e a acomodação, que são características da atividade mental;
Estrutura: explica porque ocorrem certos comportamentos. São propriedades de organizações, são os esquemas2.
O autor faz uma relação do desenvolvimento cognitivo caracterizando-o em estágios. Porém, esclarece que as mudanças de estágios ocorrem de forma contínua, e não como forma abrupta de um estágio para outro.
Piaget (1963) apud Santiago (2005) formula as fases do desenvolvimento como: estágio da inteligência sensório-motor (de 0 a 2 anos), onde o comportamento é basicamente motor; estágio do pensamento pré-operatório (de 2 a 7 anos), onde a criança desenvolve a linguagem e formas de representação; estágios das operações concretas (de 7 a 11 anos), onde a criança aplica o pensamento lógico; e o estágio das operações concretas (de 11 a 15 anos ou mais), onde a criança aplica o raciocínio lógico3.
Segundo Piaget apud Santiago (2005), as crianças entre 03 e 06 anos que estão na fase de pensamento pré-operacional, têm a brincadeira como papel importante, pois ocupam a maior parte do dia da criança e servem como importante ferramenta no processo de assimilação. E é nessa faixa etária que a criança desenvolve melhor a linguagem e esta começa a facilitar o processo de aprendizagem.
Gallahue e Ozmun (2003: 237) relacionam as brincadeiras com o desenvolvimento cognitivo quando afirmam que: "As brincadeiras servem como meios vitais, pelo quais as estruturas cognitivas superiores são gradualmente desenvolvidas". Logo, pode-se notar a importância da brincadeira também no desenvolvimento cognitivo.
O desenvolvimento cognitivo não deve se separar dos outros aspectos do comportamento humano. Não pode ser visto como esfera independente. O desenvolvimento cognitivo está diretamente relacionado ao desenvolvimento afetivo e motor. Como exemplo, pode-se dizer que a interação da criança com seus pais tem influência sobre o desenvolvimento cognitivo, já que por sua vez tem relação direta com o funcionamento emocional e desenvolvimento da personalidade, o que é a causa de comportamentos, e dessa forma, o indivíduo faz suas escolhas e se posiciona de uma determinada forma no meio em que vive.
Na aprendizagem de natação, este aspecto também pode ser visto, por conseqüência que a criança estrutura seus movimentos diante daquilo que quer realizar, e ressalta-se o papel do professor, pois ele elabora situações que fazem com que a criança construa seus conhecimentos. Logo a aprendizagem de natação desempenha um importante papel em favorecimento a este desenvolvimento cognitivo frisado aqui no texto.
Desenvolvimento afetivo
Segundo Santiago (2005), o mecanismo de construção afetiva é o mesmo mecanismo da construção cognitiva. O autor afirma que não existe um comportamento puramente cognitivo e nem mesmo puramente afetivo. Da mesma forma que a criança assimila as experiências à esfera cognitiva, ela também assimila aos esquemas afetivos. Piaget(1981) apud Santiago (2005) descreve como desenvolvimentos paralelos. Ele afirma também que, quando a criança está em processo de aprendizagem, os sucessos e os fracassos, influenciam o interesse e o empenho, demonstrando a presença de auto-estima na criança.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), a área afetiva do desenvolvimento humano relacionado com o estudo do movimento envolve sentimentos e emoções. A avaliação que o indivíduo faz dele mesmo, sua confiança motora, sua interação social, são fatores que o movimento pode influenciar. Logo, pode-se analisar a importância da motivação para a realização da atividade física para o desenvolvimento afetivo da criança.
Na natação, características como afetividade, empenho e engajamento (envolvimento na tarefa) podem ser notadas. A relação do professor com o aluno, principalmente em crianças pequenas, é de grande importância, pois é a partir dessa relação que a criança se sente segura e aceita no ambiente, favorável para um bom desenvolvimento e aprendizagem. Sem contar que esta esfera da afetividade e da interação emocional pode permitir estímulos motivacionais que proporcionam mais adesão e interesse pela atividade.
A motivação, segundo Wadsworth (1993), é considerada aquilo que ativa o comportamento. Pode-se notar também a influência da brincadeira na construção destes sentimentos, do raciocínio e dos planos de ação para os movimentos aquáticos. Ou seja, no desenvolvimento integral da criança, pode-se atribuir mudanças à forma com que a motivação influencia a auto-estima, que é uma característica que pode influenciar sua interação social, escolhas, tarefas e a satisfação pessoal, enfatizada pela questão do prazer e ambiente de aprendizagem com emoções positivas e afetividade, que permitem os avanços do aprendizado.
Desenvolvimento motor
O desenvolvimento motor deve ser compreendido para que o professor possa aplicar certos princípios no ensino aprendizagem da natação. Gallahue e Ozmun (2003: 3) fazem uma analise entre o crescimento, maturação biológica, alterações fisiológicas no desenvolvimento e o ambiente sobre o desenvolvimento motor, o autor afirma que o desenvolvimento motor "... é uma contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente".
Gallahue e Ozmun (2003) afirmam que antigamente havia uma atenção maior, por parte dos estudiosos do comportamento, para a esfera cognitiva e afetiva do desenvolvimento do indivíduo. Porém ultimamente, nota-se um crescente interesse no estudo do desenvolvimento motor, já que não é possível dissecar o indivíduo, separando as esferas de comportamento. O desenvolvimento motor relaciona as exigências físicas e mecânicas aos fatores relacionados com a experiência e o aprendizado, sendo que estes fatores podem influenciar e modificar uns aos outros, de acordo com a interação comportamental.
Mansolo (1986) traz em seu trabalho caracterizações quanto à idade em relação direta nas habilidades da natação, dentre elas, são as crianças de 3 a 6 anos. O autor relata que as crianças de 3 anos já conseguem andar de triciclo, onde o movimento é semelhante à perna do crawl. As crianças de 4 anos tem uma melhor independência da musculatura e melhor ritmo que as de 3 anos, supondo uma melhoria do batimento de perna do crawl. Já as crianças de 5 anos, o autor afirma que são mais ágeis, têm um melhor controle das atividades corporais gerais em relação as de 4 anos, melhorando sua coordenação fina. Relata que as crianças de 6 anos são mais ativas e conseguem ter uma grande evolução da coordenação4.
Com base nesses estudos, a natação para crianças mostra-se algo que, sendo bem aplicada, traz benefícios, favorecendo um bom desenvolvimento motor da criança.
Fonte
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