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O que se entende por recreação?






Como cenário teórico para análise, a pesquisa se valeu de argumentos apontados por Waichman que entende a recreação como "o processo educativo que tende a gerar o surgimento ou o aperfeiçoamento da liberdade no tempo, isto é, o tempo livre" (1997, p. 37). Tempo livre, aqui, não compreendido como "livre de obrigações", e sequer é opos-to ao trabalho ou ao tempo deste. Tempo livre entendido como aquele no qual o homem age por sua própria necessidade autocriada - autocondicionamento, liberdade, necessi-dade interior - em que o heterocondicionamento (o oposto do autocondicionamento, necessidade exterior) é mínimo e o sujeito coloca (ou impõe-se) as condições para cada atividade" (WAICHMAN, 1997).

Partindo da idéia de que a natureza humana é condicionada pelo meio social, Waichman (1997, p. 81) nos aponta a concepção de tempo social:

"[...] dá-se no concreto e no cotidiano, em um contínuo caracterizado pelo que é mais necessário (condicionamento exterior), num extremo, e a liberdade (condicionamento interior, obrigação interior), no outro. Entre um e outro extremo não existem compartimentos estanques, mas uma infinidade de posições de mais a menos auto ou heterocondicionamentos."

Assim sendo, a liberdade e o condicionamento seriam dependentes um do outro, e o ho-mem, só será livre quando for construtor de suas próprias condições (WAICHMAN, 1997). Para isso, precisa de criticidade para discernir o que é necessidade interior (auto-condicionamento - liberdade) e o que é necessidade exterior (heterocondicionada - obrigação), e a partir daí, superar as condições exteriores, passando a ser o maior res-ponsável de suas condições. Nesse contexto, a recreação apresenta atividades com obje-tivos de experimentar novas atitudes/ posturas, para que o indivíduo se perceba um su-jeito histórico, que pode ser mais heterocondicionado ou mais autocondicionado. À ne-cessidade de liberar-nos de parte do tempo heterocondicionado surge a "liberdade de", que "ocupamos com atividades de nossa escolha, autocondicionadamente" (WAICHMAN, 1997, p. 96). Segundo Fromm, (apud WAICHMAN, 1997, p. 129), "e-xiste o par dialético ‘liberdade de’ e ‘liberdade para’, ou seja, devo estar liberado de al-guma coisa, para assim poder ‘liberar-me para algo’ ". A "liberdade de" é, então, uma contrafunção - segundo Munné (apud WAICHMAN, 1997) contrafunção seria a com-pensação de uma alteração nos sistemas, sejam eles sociais ou pessoais, diminuindo os efeitos desta alteração - do tempo heterocondicionado (de obrigações) e ocorre num tempo liberador. É essa contrafunção que nos abre a possibilidade de ter acesso à "liber-dade para", alcançando o tempo livre, liberdade no tempo (WAICHMAN, 1997). Nessa conjuntura, a recreação é o agente fomentador da necessidade, no indivíduo, de trans-formação da liberdade de em liberdade para, e do tempo liberador em tempo livre. O tempo livre é, portanto, "[...] uma possibilidade, um valor a ser gerado, uma práxis a ser exercida" (WAICHMAN,1997, p. 37), ressaltando que, toda conduta autocondicionada decorre de um heterocondicionamento prévio (WAICHMAN, 1997). Então, "[...] o tem-po livre é livre quando contempla ambas as ‘partes’ da liberdade em seu exercício con-creto" (WAICHMAN, 1997, p. 129), e "liberar-me para" envolve um processo de aprendizagem. Este processo "[...] implica a existência de algum agente impulsionador, alguém que diga, sugira, que motive o(s) modo(s) de liberar o ‘tempo para’ de acordo com o modelo educativo que o oriente". Assim, o recreólogo "[...] está comprometido, já que sua tarefa consiste em que os recreandos gerem valores que lhes permitam participar da realidade de um modo mais coerente com seu ‘ser humano’ " (WAICHMAN, 1997, p. 129).

Ao trilhar a definição do autor, vejo necessária a contextualização desta. Waichman entende ainda que a recreação manifesta-se em instituições, num ‘modelo organizativo’, [...] que implicam a formulação de objetivos educativos e uma determinada continui-dade temporal" (WAICHMAN, 1997, p. 130); "tem como critério fundamental de tra-balho a busca do desenvolvimento da participação efetiva, consciente e comprometida, mediante organizações autogestoras (autocondicionamento)" (WAICHMAN, 1997, p. 131). A recreação utiliza-se do ‘tempo liberado de’ e conduz à geração do "tempo livre para", pretendendo conceber aprendizagens para não apenas consumir o tempo livre, mas fazer uso positivo e criativo desse tempo.

"A organização e a realização das ativi-dades enfatizam mais o grupal do que o individual, ratificando assim que o homem é um ser social, cooperativo com os outros e não exclusivamente competitivo. Como va-lores a desenvolver, propõe as atitudes de auxílio mútuo e solidárias diante da ênfase do individualismo típico do entretenimento" (WAICHMAN, 1997, p. 132).

Ainda, com-forme delineia Waichman (1997), a recreação não se faz presente na educação formal, ela é, segundo ele, parte da educação não-formal, e a característica crucial em que Waichman se baseia para pretender a recreação nesta, é a de não obrigatoriedade, pois o indivíduo busca a educação não-formal voluntariamente. No entanto, convém lembrar que Waichman (1997, p. 141) compreende que: "A essência da recreação não é apenas o tempo em que ela se manifesta, mas também as características educativas que se lhe outorgam. O participante gerará aprendizagens para o uso desse tempo liberado fora das estruturas do sistema recreativo."

Sobre isso, penso ser importante esclarecer que não comungo completamente desse em-tendimento do autor, visto acreditar que o "lugar" da recreação não seja apenas o sistema não-formal. Compreendo que a recreação possa contextualizar-se também no sistema formal de ensino, já que segundo Waichman (1997): o crucial da recreação são as características educativas nela colocadas; para se alcançar o tempo livre, sempre partimos de um tempo heterocondicinado; na recreação, se educa para fora do sistema recreativo; e, por último, a essência da recreação não é o tempo em que se manifesta. Assim estou defendendo, a partir dessa leitura acerca da discussão de Waichman (1997), que, o docente da educação formal, que busca a criticidade do recreando centrando-se no modelo de homem como protagonista de sua história, pode educar para o tempo livre, no tempo heterocondicionado (da escola), pois é deste último que sempre partimos para alcançar o tempo plenamente livre.

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