Nunca gostei das aulas de Educação Física. Não entendia por que os professores insistiam em propor exercícios repetitivos e também não queria expor minha notória falta de coordenação motora perante toda a classe. Como eu, muitos fogem das aulas dessa disciplina. "Tinha pavor de basquete. A cesta, muito alta, sempre me deixava envergonhado nas aulas." Com essa frase, Everaldo Cortes do Carmo, formador de professores do Instituto Esporte e Educação, em São Paulo, começou uma capacitação gratuita oferecida pela Caravana da Educação -- evento que percorre o país ensinando a professores que a ideia de jogo vai além do trivial "um time de cada lado e uma bola". Desde 2005, o projeto já formou mais de 10 mil educadores, em vários estados. O objetivo da ação é rever conceitos da Educação Física, que ainda privilegia, muitas vezes, a recreação e a cobrança pelo rendimento, em detrimento da valorização de produções de nossa cultura corporal, como os jogos.
À primeira vista, eles são atividades simples, que não precisam ser ensinadas. Mas, logo no início da formação a que assisti, na capital paulista, os educadores perceberam que eles são mais que um mero passatempo. "Ao jogar, as pessoas têm a possibilidade de montar estratégias, desenvolver um trabalho coletivo e treinar técnicas de modalidades esportivas sem realizar treinos intensivos, além de poderem contar com a colaboração de todos, sejam eles baixos, gordos ou com alguma deficiência", disse Everaldo.
Os professores começaram tímidos, mas bastou chegar a hora da prática para se soltarem. Em grupos montados de maneira aleatória, para promover a interação, os participantes treinaram arremesso durante alguns minutos. Quase em silêncio, se comunicavam apenas quando alguém errava o lance. Logo que passaram à atividade seguinte, um jogo denominado "derruba pino", a interação entre eles mudou. Assim, puderam comparar as diferenças entre ele e um treino repetitivo. Durante a partida, os professores se mobilizavam, criavam táticas para alcançar um objetivo comum e participavam de rodas de conversa. Essenciais para a compreensão do que havia sido feito, elas geravam novas regras, mudanças no time e estratégias diferenciadas sem deixar de lado um dos elementos essenciais do jogo: a imprevisibilidade que proporciona a participação de todos.
Não foi só no espaço da quadra que os professores aprenderam. Também em sala, durante a capacitação teórica, eles perceberam que é possível lidar com situações adversas -- como a falta de espaço na escola, por exemplo -- sem perder a oportunidade de usar o jogo como um recurso para a aprendizagem. Num vôlei adaptado, em que a fita adesiva fazia as vezes de rede e bexigas eram usadas como bolas, eles compreenderam que dá para ensinar fundamentos de práticas esportivas à turma com base nesse tipo de estratégia. "O esporte não pode ser trabalhado apenas como técnica. Também é preciso entender o processo de aprendizagem e ensinar valores como a participação e a cooperação", explicou Everaldo.
No fim da formação, que durou dois dias, os professores saíram conversando entre si sobre o que mudariam quando voltassem à escola - e a opinião era unânime. Treinos repetitivos, aulas sem supervisão e alunos escapulindo para não participar - como eu tanto fiz - seriam práticas extintas em suas turmas.
Por Bianca Bibiano (bianca.bibiano@fvc.org.br)
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