Neste estudo, encontrar-se-ão permeadas concepções de diferentes autores que tratam dos temas referentes às especificidades da Educação Física, escola e contexto escolar, o que contribuiu para a elaboração de nossa proposta.
A Educação Física inserida na escola é definida por Betti como uma disciplina que tem por finalidade "introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, da dança, e das ginásticas em benefício de sua qualidade de vida" (1998, p. 19) (grifos do autor). Integrar-se-iam a essas formas culturais da motricidade humana, ainda, as atividades rítmicas/expressivas, práticas de aptidão física, as lutas/artes marciais e as práticas corporais alternativas (Betti, 2005, p. 148).
É importante salientarmos que a apropriação dos elementos da cultura corporal de movimento6 necessita ir além do imediatismo do emprego de técnicas e fundamentos (dimensão procedimental), para que possa contemplar também as atitudes, valores que nossos alunos devem ter nas e para as práticas corporais (dimensão atitudinal) e, ainda, garantir a estes o direito de uma explicitação do por que e para quê fazer esse ou aquele movimento, conforme os conceitos ligados a essas práticas (dimensão conceitual) (Darido, 2001).
Sob esse olhar, estabelecemos alguns critérios para selecionar os temas que foram/são historicamente incorporados pela Educação Física e, a partir deles, constituir uma referência para consolidar o nosso trabalho diário enquanto profissionais da educação, no intuito de justificar nossa intervenção na escola. Como sabemos, o esporte é um dos, senão o único, tema abordado pela Educação Física na escola, nos limites de uma compreensão prévia de algumas regras.
Para desenvolver o "conteúdo" esporte, utilizamo-nos, neste trabalho, de uma classificação proposta por Gonzalez (2003), que nos auxilia a pensar as diferentes demandas exigidas em cada modalidade esportiva, além de permitir localizar os diferentes tipos de esportes. Essa classificação realiza-se em função de quatro categorias7: "a) a relação com o adversário, b) a lógica de comparação de desempenho, c) as possibilidades de cooperação, e, d) as características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva".
Com base em Gonzalez (2003) e em diferentes autores que discutem as especificidades da Educação Física, dentre os quais destacamos Betti (1998, 2005), Bracht (1997, 2004) e Coletivo de Autores (1992), elaboramos uma proposta de intervenção por nós denominada de "Mapa de Trabalho":
Este Mapa de Trabalho contempla alguns "conteúdos"8 que deveriam/devem fazer parte de um programa de ensino para a Educação Física escolar, se entendermos que é de sua responsabilidade a tematização da cultura corporal de movimento. Os conteúdos a que nos referimos aparecem, nesse desenho, de maneira compartimentada, mas é preciso explicitar que muitos destes podem ser tratados de diferentes formas: o tema lutas pode fazer referência ao esporte institucionalizado, com regras específicas regulamentadas por federações e confederações, como é o caso do Judô, por exemplo. O mesmo tema pode ser adotado para fazer referência a dois adversários que disputam a conquista da bola em um jogo de futsal, ou, ainda, um jogo de luta em que dois oponentes ou mais tentam sobrepujar seu(s) adversário(s) em uma luta de queda-de-braço ou de cabo-de-guerra (Coletivo de Autores, 1992).
Estes temas necessitam ser explicitados e reinventados a cada novo coletivo e em cada turma de alunos em que se insere o professor, para que compartilhem da construção de conceitos, "construção sempre ligada às experiências de que, em comum, participam" (Marques, 1992, p. 562).
Em nossa intervenção profissional, temos feito um grande esforço para manter o estreito vínculo entre teoria e prática, elaborando assim uma prática reflexiva em que os alunos também são partícipes da construção do seu próprio processo de ensino- aprendizagem9. Nesse sentido, apresentamos a proposta de trabalho aos alunos para que estes participem da construção de conceitos, da reconstrução do imaginário acerca da Educação Física e da escolha dos elementos da cultura corporal de movimento, que farão parte de sua aprendizagem durante um ano letivo. De posse desses conceitos10 os alunos começam a compreender a importância da Educação Física no seu processo de formação. Após algumas discussões, o Mapa de Trabalho ficou assim constituído:
(Proposta desenvolvida no ano de 2004)
No quadro anterior, apresentamos a capoeira no item lutas, mas ela é também, jogo, dança, "ginástica brasileira". Acreditamos, ainda, que, se necessitássemos enquadrá-la em apenas um termo, escolheríamos o jogo. O esporte, da mesma forma, poderia ser enquadrado como jogo, no momento em que suas regras são adaptadas, transformadas. O que queremos afirmar é que os diferentes temas da cultura corporal de movimento não podem ser colocados em caixas de vidro, isolados de outras manifestações, mas devem ser bem explicitados no plano conceitual.
Antes mesmo da intervenção desta proposta de trabalho, já havíamos discutido com os alunos que tentaríamos desenvolver um número significativo dos temas da cultura corporal de movimento, tomando cuidado para atender as dimensões procedimentais, conceituais e atitudinais. Alguns conteúdos não foram abordados, devido, entre outros fatores, ao grande número de atividades propostas
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