Na contramão da ditadura dos esportes coletivos com bola, a tendência dos currículos modernos é tornar a Educação Física mais ref lexiva. Todo movimento é carregado de sentido. Por isso, é preciso discutir a história e a inserção de cada um deles na sociedade atual, afirma Marcelo Barros da Silva, formador de professores e consultor de programas em Educação Física, de São Paulo. Pensando assim, Jussara Ladeia de Andrade, Marluza Secchin Malacarne e Iara Francisca Croce Tedesco, que lecionam para turmas de 1ª a 4ª série na rede municipal de Vitória, organizam cursos temáticos. Neste ano, o tema é a cultura afro-brasileira, que permite vivenciar e discutir a capoeira, o maracatu, o hip-hop e a inserção do negro em diversos esportes como o futebol, escolhido para ser tratado pelos estudantes da EMEF Éber Louzada Zippinotti. De tempos em tempos o jogo é interrompido para o grupo se manifestar e propor modificações nas regras. O objetivo é fazer com que meninos e meninas, inclusive os que têm deficiência física, participem, explica Jussara. É uma maneira de aplicar os princípios que devem nortear a disciplina (veja a seguir). A perspectiva é atender todos e ajudar a respeitar a multiculturalidade e a diversidade de práticas corporais, afirma Marcos Garcia Neira, coordenador do Grupo de Pesquisas em Educação Física da Universidade de São Paulo.
1. Leitura de práticas corporais
O que é
Ao ter contato com atividades físicas por meio de vídeos, apresentações ao vivo etc. , a turma interpreta o que vê. Assistir a partidas de futebol, a apresentações de dança e às Olimpíadas é uma forma de apresentar diferentes manifestações de cultura corporal, com a possibilidade de comentá-las e analisá-las.
Quando propor
Antes do início de uma nova prática e sempre que a turma for espectadora de alguma atividade física.
O que a criança aprende
Conhecendo mais sobre a cultura corporal de um grupo, ela passa a valorizá-la. Percebe ainda a ligação entre o movimento e as condições históricas, sociais e culturais que o originaram. Em uma apresentação de hip-hop, por exemplo, é possível identificar as semelhanças com outros ritmos afro e analisar as mudanças que a cultura de massa introduziu na manifestação.
2. Atividades práticas
O que é
Brincadeira, dança, esportes ou ginástica, com a adaptação da manifestação corporal às necessidades materiais, espaciais, de aprendizagem etc. A classe rediscute as regras para perceber que a adaptação faz parte da história dos esportes modalidades como o futebol de salão ou o de areia nasceram assim. Em uma brincadeira de roda, por exemplo, é possível perguntar: todo mundo está conseguindo participar? Pode ser melhor se fizermos rodas menores? É essencial intervir para garantir que, a seu modo, todos estejam inseridos. Também é a hora de questionar alguns rótulos: ginástica rítmica é coisa só de menina?
Quando propor
Semanalmente. O ideal é apresentar ao longo do ano letivo um conjunto diversificado de exercícios para que as habilidades do grupo sejam contempladas em vez de privilegiar apenas os bons no esporte.
O que a criança aprende
Além da função lúdica, a prática do movimento ajuda na criação de regras de convivência para que todos participem (leia o quadro acima). Jogos, esportes e brincadeiras também estimulam o raciocínio estratégico e de códigos de comunicação.
3. Aprofundamento dos conhecimentos
O que é
A parte reflexiva das aulas. O aluno lê e realiza pesquisas e entrevistas sobre o movimento corporal. Vale pedir os resultados em painéis fotográficos, debates, seminários e produções escritas.
Quando propor
Após a parte prática, quando todos já tiveram a oportunidade de vivenciar as diferentes atividades.
O que a criança aprende
O papel da história, das condições sociais e da cultura de cada grupo nas práticas corporais.
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