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Educação Física Escolar e Fisiologia do Exercício: Uma proposta de Interdisciplinaridade.





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Durante muito tempo a aula de Educação Física na escola foi vista como hora de lazer ou momento de trabalhar o corpo, desenvolvendo suas funções físicas, reforçando uma concepção dicotômica de corpo e mente.

Atualmente, por força legal, a Educação Física é considerada disciplina integrante do projeto pedagógico da escola.

Hoje em dia, novas discussões no meio acadêmico e profissional estão modificando o paradigma da Educação Física Escolar e superando antigas concepções, sendo a interdisciplinaridade uma das propostas de maior repercussão nessas discussões.

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O trabalho interdisciplinar permite à Educação Física uma interação na construção do conhecimento na escola, fazendo uso de conteúdos inerentes à sua formação e articulando-os com as demais disciplinas curriculares.

Este artigo propõe colocar a Educação Física como parceira de uma equipe interdisciplinar buscando continuamente a investigação, pesquisa e descoberta de novos conhecimentos para proporcionar melhor formação ao educando, utilizando o exemplo da Fisiologia do Exercício, que é parte integrante dos estudos da Educação Física e apresenta vários conteúdos que podem ser trabalhados de forma articulada com as demais disciplinas do currículo escolar.

Inicialmente comentaremos a respeito da educação em função dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais); em seguida faremos algumas reflexões sobre o conceito de interdisciplinaridade e abordaremos a Educação Física Escolar tendo em vista a proposta do PCN. Ao final apresentaremos sugestões de interdisciplinaridade, articulando conteúdos da fisiologia do exercício com outras disciplinas.

Reflexões sobre educação à luz do PCN

A educação tradicional secundária, pautada na transmissão de conhecimento ao aluno pelo professor, sem a sua contextualização com o mundo ao seu redor, não está mais atendendo às exigências dos espaços de trabalho e das novas funções a serem desempenhadas na sociedade. Por exemplo, um caixa de supermercados que há alguns anos tinha como função registrar os preços dos produtos, hoje tem à sua disposição um computador onde pode dar informações referentes aos produtos e sua forma de pagamento, além de conhecer os diversos tipos de crediários; ele também contribui nas atividades de marketing da empresa junto aos clientes.

Estas habilidades não se aprendem na escola, nem no ensino médio ou profissionalizante,. já que as relações de produção no trabalho estão em constante mudança cabendo à escola formar um indivíduo apto a compreender as mudanças atuais e interagir com eficácia sobre as que estão por vir.

O PCN do Ensino Médio (Brasil, 1999) aponta preocupações em relação a isso: "A nova sociedade, decorrente da revolução tecnológica e seus desdobramentos na produção e na área da informação, apresenta características possíveis de assegurar à educação uma autonomia ainda não alcançada. Isto ocorre na medida em que o desenvolvimento das competências cognitivas e culturais exigidas para o pleno desenvolvimento humano passa a coincidir com o que se espera na esfera da produção".

Dentro dessa realidade, observamos a necessidade de mudanças nos modelos metodológicos existentes. O PCN diz que uma nova concepção curricular para o Ensino Médio, (Brasil, 1999) "deve expressar a contemporaneidade e, considerando a rapidez com que ocorrem as mudanças na área do conhecimento e da produção, ter a ousadia de se mostrar prospectiva".

É interessante proporcionar aos alunos oportunidades para desenvolver competências estratégicas indispensáveis as novas realidades. "De que competências se esta falando? Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento".(PCN, Brasil, 1999).

Dentro desse contexto, a resolução CEB nº3, de 26 de junho de 1998, que institui as diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio, inclui a interdisciplinaridade entre os princípios que devem nortear a construção do conhecimento. Conforme o Art.6º, "Os princípios pedagógicos da identidade, diversidade e autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização serão adotados como estruturadores dos currículos do Ensino Médio". (Brasil 1999).



Alguns conceitos de Interdisciplinaridade

O conceito de interdisciplinaridade formulado por Heloisa Luck (1990) ressalta exemplarmente a sua importância na construção do conhecimento diante da nova realidade: "interdisciplinaridade é o processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo e serem capazes de enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade atual".

A partir desse conceito, deve-se trabalhar cada disciplina levando o aluno a perceber as inter-relações de seu conteúdo com o das outras disciplinas, para que ele adquira uma compreensão crítica das relações existentes na sociedade entre as pessoas, os sistemas e as conquistas decorrentes do conhecimento humano.

Para isso, a participação de todos os professores representantes das disciplinas é de fundamental importância na construção desse projeto, não basta querer ser interdisciplinar é preciso se perceber como tal.

Ivani Fazenda (1996) define bem essa necessidade quando diz que "o que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação da insegurança num exercício do pensar, num construir". Maria Elisa Ferreira (1996) também reforça a idéia de atitude : "interdisciplinaridade é uma atitude, isto é, uma externalização de uma visão de mundo que, no caso, é holística".

Educação Física Escolar e currículo

Desde sua inclusão no currículo escolar até os dias de hoje, a participação da Educação Física no contexto pedagógico vem sendo sempre discutida em relação aos seus conteúdos, a sua importância e a sua relação com outras disciplinas no projeto pedagógico, sobre o que e como ensinar e até mesmo a sua permanência.

Hoje, o PCN (Brasil, 1999) coloca, entre os principais objetivos da Educação Física no Ensino Médio, a compreensão do funcionamento do organismo e sua relação com a aptidão física, noções sobre fatores do treinamento em suas práticas corporais, estudos com perspectiva na cultura corporal e sobre atividade física como promotora de saúde. É possível trabalhar esses conteúdos de forma interdisciplinar, promovendo no estudante uma visão mais abrangente sobre a importância da Educação Física na construção da sua formação.

A lei nº 630 de 17/09/1851- incluí a ginástica no currículo escolar. Em 1882 a Educação Física recebe apoio nos pronunciamentos de Rui Barbosa: (citado por Tubino, 1996) "os sacrifícios de que dependem estas inovações parecem-nos mais que justificados, se é certo que a ginástica, além de ser o regime fundamental para a reconstituição de um povo cuja vitalidade se depaupera, e desaparece de dia em dia a olhos vistos, é, ao mesmo tempo, um exercício eminentemente, insuprivelmente da liberdade. Dando à criança uma presença ereta varonil, passo firme e regular, precisão e rapidez de movimentos, prontidão no obedecer, asseio no vestuário e no corpo, assentamos insensivelmente a base de hábitos morais, relacionados pelo modo mais intimo com o conforto pessoal e a felicidade da futura família; damos lições praticas de moral talvez mais poderosas do que os preceitos inculcados verbalmente".

Observamos no discurso de Rui Barbosa uma preocupação de caráter eugenista e higienista e da necessidade da formação de um povo "forte", sem vicios e que cultivasse hábitos saudáveis; observamos também a preocupação para a construção de um corpo dócil e disciplinado, pronto para receber e cumprir ordens; e Rui ainda faz uma critica às disciplinas teóricas, dizendo que o aspecto pratica da Educação Física reforça valores morais e normas de forma mais consistente que discursos teóricos.

Esses valores na Educação Física escolar permaneceram até o Estado Novo. Com a mudança do quadro político em 1930, o Brasil preparou-se para entrar no mundo industrializado e tinha a preocupação de levantar a auto-estima de seu povo e consolidar novos interesses políticos. Dentro desse contexto, o esporte é visto como uma das formas de passar para o mundo uma imagem de um país em ascensão.
A partir desse novo paradigma, o esporte passa a ter grande importância na Educação Física, e este na escola passa a funcionar como forma de detectar talentos para as seleções das diversas modalidades esportivas do país, assumindo um caráter de competitividade.

Com o inicio da Nova Republica e até nossos dias, a Educação Física vem tendo contornos diferentes nas escolas, não só por questões de interesse políticos ou classes dominantes, mas também por que a partir de 1980, varias pesquisas vêm sendo feitas nessa, área analisando a sua práxis metodológica e seus valores sócio-cultural, político e educacional.

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Segundo (Caparroz, 2000) "os anos 80 aparecem como o nascimento de concepções e práticas pedagógicas libertadoras, transformadoras, na perspectiva de desenvolver uma Educação Física voltada para o ser humano e não mais às necessidades do capital. As elaborações traziam em seu bojo uma nova proposta de Educação Física, totalmente diferente de tudo o que havia sido pensado ou experimentado, visto que a Educação Física que se tinha ate então só servia para a manutenção do status quo".


Contribuições da Fisiologia do Exercício no projeto de interdisciplinaridade da Educação Física Escolar

A Fisiologia do Exercício é uma área de conhecimento também estudada pela Educação Física e tem em sua estrutura teórica diversos temas que podem ser articulados com outras disciplinas.
A seguir, daremos alguns exemplos dessas possibilidades, como convite à comunidade docente a aprofundar os estudos e pesquisas em um projeto interdisciplinar.

Com a Física.

No estudo do movimento uniforme (progressivo e retrógrado). Por conceito temos que movimento progressivo é quando o móvel caminha em favor da orientação positiva da trajetória e seus espaços crescem. O retrógrado é quando o móvel caminha contra a orientação positiva da trajetória e seus espaços decrescem. Pode-se fazer uma caminhada com os alunos estabelecendo o ponto de partida e de chegada, discutindo estes conceitos com eles.

No calculo da velocidade média que é a divisão da distância pelo tempo, faríamos uma corrida onde demarcaríamos uma pista e, com a ajuda de um cronômetro, mediríamos o tempo e teríamos o cálculo da velocidade media.

A análise dos sistemas de alavanca pode ser ilustrada com os movimentos feitos pelo corpo para vencer uma resistência. Perguntas como: "por que para levantar um peso temos que flexionar os joelhos?" podem ser respondidas com a biomecânica.

Com a Geografia

No estudo da influência do tempo para a prática de exercícios poderemos discutir conceitos trabalhados na geografia, como: umidade relativa do ar, condições do tempo para a prática de exercícios em diversas regiões do país e do mundo.

Com a Biologia

No estudo do sistema energético aeróbico e anaeróbico, faríamos teste onde analisaríamos as sensações e os efeitos destes sistemas no corpo humano.
Questão-exemplo: Qual a importância dos carboidratos, proteínas e gorduras para a prática do exercício?

Com a sociologia

Podemos fazer um estudo da composição corporal dos alunos, refletindo sobre a importância de se ter um equilíbrio entre a massa gordurosa e a muscular no nosso corpo e faríamos uma análise das condições sócio-econômicas de nossa população e seus reflexos na saúde e estrutura do corpo dessas pessoas.

Esses são apenas alguns exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física, abordando temas ligados à Fisiologia do Exercício de forma articulada com outras disciplinas.

São apenas primeiros passos para uma reflexão maior sobre práticas metodológicas e o compromisso com a necessidade emergente de novas propostas pedagógicas adequadas à realidade atual, buscando desenvolver o espírito investigativo no aluno de forma que, ao sair da escola, esteja apto a interagir no mundo, percebendo-o de forma critica.

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Claudiney André Leite Pereira é professor do ensino médio da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, licenciado em Educação Física, pela Universidade Federal da Bahia, especialista em Metodologia do Ensino da Educação Física, pela Universidade do Estado da Bahia, especialista em Fisiologia do Exercício pela Gama Filho


Referências Bibliográficas

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília Ministério da Educação, 1999.

CAPARROZ, Francisco Eduardo. Entre a Educação Física na escola na escola e a Educação Física da escola: A Educação Física como componente curricular. Vitória, UFES, Centro de Educação Física e Desporto Ltda. 2000.

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FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: definição, projeto, pesquisa.In: FAZENDA, Ivani (org). Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Ed. Cortez, 1996.

FERREIRA, Maria Elisa. Ciência e Interdisciplinaridade. In: FAZENDA, Ivani (org). Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Ed. Cortez, 1996.

FREIRE Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17º Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

LUCK, Heloisa. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teóricos – metodológicos Petrópolis, Rj, Vozes, 1990.

MATOS, M.G. e NEIRA, M.G. Educação Física na Adolescência: construindo o movimento na escola. São Paulo: Phorte Editora, 1999.

NOGUEIRA, Maria Alice. Educação, Saber, Produção em Marx e Engels. São Paulo, Cortez, 1993.

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TUBINO, Manoel José Gomes. O esporte no Brasil, do período colonial aos nossos dias. São Paulo, Ibrasa, 1996.

Wilmore, J.H. e Costill, L.D. Fisiologia do esporte e do exercício. 2º Ed. São Paulo, Manole, 2001.

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