Uma das atividades físicas mais aplicáveis à recreação das crianças é, sem dúvida, o brinquedo cantado.
Em todas as partes do mundo, ao passarmos por uma rua, onde crianças brincam despreocupadamente, é comum ver-se, de maneira natural e espontânea, a utilização do brinquedo cantado, em qualquer das suas formas.
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Impossível determinar-se o seu aparecimento através dos povos e do tempo. Sempre existiram, entre todos os povos, através do cancioneiro folclórico infantil, para alegria das crianças e de todos, quer através das cantigas de ninar, das toadas ou das cantigas avulsas.
Sua origem pode ser rebuscada nos restos de velhas cerimônias dos povos do passado, em caráter de jogos e folguedos, que, posteriormente, em formas de entretenimento das crianças.
No Brasil, esses brinquedos cantados sofreram a influência das músicas do elemento português e do africano, ameríndios e, em menor proporção, de outros povos.
Considerando-se, entretanto, o fato inegável de que cada povo tem a sua índole própria, os brinquedos cantados, de origem tão diversificada, vêm sofrendo variações, deformações e transformações lentas, mas seguras, apresentando-se, em nossos dias, com um cunho eminentemente nacional.
Exemplos:
Procedência portuguesa: “Ciranda, cirandinha”, “A moda das tais anquinhas”, etc.
Procedência francesa: “Eu sou pobre, pobre, pobre”, A mão direita tem uma roseira”, etc.
Procedência espanhola: “Senhora Dona Sancha”, “Maria Cachucha”, etc.
Procedência alemã e inglesa: “Já viram uma menina?” (melodia alemã e letra do inglês).
Convém, ainda ressaltar o fato de termos o nosso cancioneiro enriquecido pelo aproveitamento, transfigurado, de coisas que as crianças ouvem e assimilam. Exemplos: “Escravos de Jô” (proveniente de um jogo de mesa de bar) – assim, também, do romance “D. Jorge e D. Julinha”, resultou a roda cantada “Por que choras, Julieta?”.
Chamamos de “Cancioneiro Folclórico Infantil”, ao conjunto das cantigas próprias da criança e por ela entoadas em seus brinquedos ou ouvidas dos adultos, quando pretendem adormecê-la, entretê-la ou instruí-la; são cantigas que vêm de geração a geração e que se perpetuam e se transmitem pela tradição oral.
O Cancioneiro Folclórico Infantil abrange:
- Acalantos ou cantigas de ninar: “Tutu Marambá”, “Dorme Nenê”, etc.
- Cantigas avulsas (que as crianças entoam em qualquer de suas atividades, sem que com elas tenham uma correlação direta): “Mestre Domingos”, “Menina bonita”, etc.
- Estribilhos musicais (que integram as histórias contadas e cantadas): “Minha mãezinha”, Carpinteiro de meu pai”, etc.
- Toadas (ou melodias para ensino da soletração e da tabuada já em desuso, mas ainda de valor, sob alguns aspectos): “B-a-bá, B-í-bí”, “Um e um, dois, um e dois, três”, etc.
- Brinquedos cantados (de vários tipos, conforme classificação e divisão a seguir):
Divisão dos brinquedos cantados:
1) Brinquedos de roda: “Ciranda, cirandinha”, etc.
2) Brinquedos de grupos opostos: “O pobre e o rico”, etc.
3) Brinquedos de fileira: “Passarás, não passarás”, etc.
4) Brinquedos de marcha: “Marcha, soldado”, etc.
5) Brinquedos de palmas: “Pirolito que bate, bate”, etc.
6) Brinquedos de pegar: “Vamos passear no bosque”, etc.
7) Brinquedos de esconder: “Senhora D. Sancha”, etc.
8) Brinquedos de cabra-cega: “A gatinha parda”, etc.
9) Chamadas para brinquedo: “Ajunta povo, para brincar”, etc.
10) Cantigas de escolha de jogadores: “Um no ni é de pó politana”, etc.
De todos, entretanto, a roda é o tipo que oferece mais atração para a recreação infantil; assim sendo, daremos, agora, a sua classificação:
1) Quanto ao conteúdo da letra:
a) Temas de vida social: “Ciranda, cirandinha”, etc.
b) Temas da natureza: “A pombinha voou”, “Cachorrinha está latindo”, etc.
c) Temas instrutivos: “As estações do ano”, “O bá-bé-bí-bó-bu”, etc.
d) Temas do romanceiro: “Terezinha de Jesus”, “O cravo brigou com a rosa”, “Esta rua tem um bosque”, etc.
2) Quanto ao andamento:
a) Rodas lentas: “Terezinha de Jesus”, etc.
b) Rodas moderadas: “Escravos de Jô”, “Sambalelê”, etc.
c) Rodas vivas: “Pirolito que bate, bate”, etc.
d) Rodas alternantes: “O cravo brigou com a rosa”, etc.
3) Quanto à execução musical:
a) Côro: “A canoa virou”, “Escravos de Jô”, etc.
b) Solo e côro: “Senhora viúva”, “Esta rua tem um bosque”, etc.
c) Forma mista (côro e parte falada ou declamada): “Ciranda, cirandinha”, etc.
4) Quanto à estrutura:
a) Tipo aaa (em que todas as quadras são cantadas com a mesma melodia): “A moda das tais anquinhas”, etc.
b) Tipo ab (que reúne duas melodias diferentes): “O cravo brigou com a rosa”, etc.
c) Tipo abc (em que se sucedem três ou mais diferentes melodias): “Eu fui ao Tororó”, etc.
5) Quanto à formação:
a) Roda simples: “Ainda não comprei”, etc.
b) Roda com um figurante no centro: “Ciranda”, etc.
c) Roda com dois ou mais figurantes no centro: “O cravo brigou com a rosa”, etc.
d) Roda com um figurante fora: “A mão direita tem uma roseira”, etc.
e) Roda com figurante fora e dentro: “A linda rosa juvenil”, etc.
f) Roda assentada: “Escravos de Jô”, etc.
g) Rodas concêntricas: “Onde está a margarida”, etc.
6) Quanto à movimentação:
a) Marcha simples: “Ai! – eu entrei na roda”, etc.
b) Marcha na ponta dos pés: “Eu sou a borboleta”, etc.
c) Saltitos: “Atirei um pau no gato”, etc.
d) Roda em cadeia ou serpentina: “Havia um novo navio”, etc.
e) Rodas que acentuam um determinado ritmo ou marcam os tempos fortes da melodia: “Ciranda, cirandinha”, Pirulito que bate, bate”, “Palma, palma, palma...”, etc.
f) Rodas imitativas: “Carneirinho, carneirão”, etc.
g) Misto de roda e dança: “Os quindô-le-lê...”, etc.
h) Rodas dramatizadas: “O cravo brigou com a rosa”, etc.
Nota: Em qualquer das rodas sempre há exemplo de qualquer um dos grupos citados; de certa maneira, podemos afirmar que todas as rodas são mistas, quanto à sua movimentação, prevalecendo nesta ou naquela, uma ou outra característica.
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