Há alguns anos atrás, pesquisadores da área da educação física escolar iniciaram uma grande discussão sobre a pedagogia do esporte na escola, ou seja, de que forma deveríamos conduzir a prática esportiva nas aulas de educação física. A partir daí, através de pesquisas, chegou-se a um ponto em comum: estaria havendo uma especialização precoce dos nossos alunos, que estavam se transformando em atletas muito antes do recomendado.
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A especialização precoce está diretamente relacionada à síndrome da "saturação esportiva" (os alunos abandonam a prática do esporte precocemente); como exemplo, nós temos os nossos atletas de natação, onde nas categorias iniciais são bastante competitivos e quando chegam a categoria adulta ou profissional o desempenho destes cai assustadoramente. O quê aconteceu? Isto é o que vamos tentar responder no decorrer deste trabalho.
Vários estudos apontam que o referido declínio se dá por causa da "especialização precoce" que ocorre nas nossas escolas, as quais só tem olhos para o esporte competição. O esporte escolar, infelizmente, acabou se tornando uma forma que as escolas encontraram para fazer a sua publicidade, principalmente as particulares; e o esporte educação, aonde é que está? Nós como futuros profissionais da área da educação física precisamos ter mais responsabilidade com os nossos alunos, respeitando a sua individualidade, o seu desenvolvimento motor e a sua aprendizagem motora nas diferentes fases.
Uma grande preocupação que observamos, por parte de vários autores, é com a especialização precoce. Precisamos acabar com essa idéia de que as nossas crianças podem ser treinadas da mesma forma que os adultos. Temos a obrigação, como profissionais de educação física, de deixarmos as nossas crianças serem crianças.
Uma especialização precoce significa que os jogadores infanto-juvenis podem ser bem sucedidos em uma determinada faixa etária de forma relativamente rápida. Através disto, pode-se alcançar uma elevação veloz, precoce e acima da média da performance nessas categorias de base. Mas na maior parte dasvezes , ocorre uma queda da performance, tão rápida quanto a ascensão ou mesmo uma estagnação, que é constatada, o mais tardar, durante a fase de transição das categorias juvenil e júnior para a fase adulta (Ehret et all, 2002).
Vários profissionais da educação física escolar procuram evitar uma especialização precoce, que prejudica substancialmente as nossas crianças quando chegam na fase adulta. Esta especialização, em muitos casos, é imposta pelos donos de escolas, que querem resultados imediatos de crianças. Estas, por sua vez, ainda não estão preparadas psicologicamente para competir, resultando na síndrome da saturação esportiva e a conseqüente queda de declínio durante a idade adulta.
A desvantagem desse desenvolvimento em relação a uma livre e variada oportunidade de se jogar é muito criticada na atualidade;crianças não são, na sua natureza, especialistas; elas são generalistas. A especialização precoce, cargas unilaterais (um só tipo de esporte), como a dos adultos, é copiada neste modelo em relação às exigências das cargas em geral, e isto não tem sido adequado. Pelo contrário, apresentam desarmonias no desenvolvimento, acompanhadas de um abandono precoce do esporte, antes de se ter chegado ao nível de rendimento (Kröger e Roth, 2002).
Devemos, em todas as fases do desenvolvimento de uma criança, respeitar a sua individualidade, pois todas são diferentes. Precisamos saber identificar essas diferenças durante este processo e compreender os diferentes comportamentos motores/cognitivos/afetivo-sociais que venham a ocorrer, para que possamos obter êxito no nosso treinamento, neste caso do handebol, sem provocar uma saturação.
Os jogos desportivos coletivos são constituídos por várias modalidades esportivas, como por exemplo, o futebol, o futsal, o voleibol, o basquetebol, o pólo aquático e o handebol; são esportes praticados por crianças e adolescentes em todos os continentes do nosso planeta, por isso se torna tão importante o nosso estudo sobre este tema.
A evolução do esporte escolar é constante, ficando cada vez mais evidente o seu caráter competitivo, regido por regras e regulamentos (TEODORESCU, 1984). Por outro lado, os autores ligados à pedagogia do esporte também têm observado a grande importância dos jogos desportivos coletivos na escola para a "educação" de crianças e adolescentes de todas as classes sociais do nosso país, já que a prática destes esportes coletivos na escola promove intervenções quanto à participação, inclusão, cooperação, convivência, espírito de equipe, tomada de decisões, entre outras.
Para iniciarmos uma discussão com relação à pedagogia do esporte para crianças, vamos citar o que alguns autores renomados na área colocam como estágios de desenvolvimento, para que sejam abordados diferentes aspectos nas aulas de educação física na escola.
Gallahue e Ozmun (2005) adotam uma abordagem desenvolvimentista, que ao ensinar as habilidades motoras para a faixa etária de 07 a 10 anos a aprendizagem deve ser totalmente aberta, ou seja, os conteúdos de ensino são aplicados pelos professores e praticados pelos alunos, sem interferência nem correções dos gestos motores que estejam sendo executados na prática da atividade. Para a faixa etária dos 11 aos 12 anos o ensino deve ser parcialmente aberto, aonde ocorrem breves correções técnicas na execução dos movimentos, ora desenvolvidos. Na faixa dos 13 a 14 anos de idade o ensino passa a ser parcialmente fechado, devido ao início do processo de especificidade dos gestos de cada modalidade na procura da especialização desportiva, e somente após os 14 anos de idade deve acontecer o ensino totalmente fechado.
Ehret et al. (2002) criaram um modelo alemão de ensino do handebol, consistindo um sistema de treinamento de longo prazo. Este modelo é composto por quatro etapas: a formação básica, que seria até os 12 anos de idade, onde o professor deveria promover o primeiro contato com o handebol, mas de uma forma generalizada, nada de especificidade nesta etapa; a segunda etapa seria o treinamento básico, realizado dos 13 aos 14 anos, sendo caracterizada pelo início da apresentação dos conteúdos técnicos/táticos/normativos, inerentes ao handebol; o jogo ainda deve ser explorado de forma lúdica, sendo implantado aos poucos as formas de exercícios. Ainda nesta fase é iniciado o trabalho com as habilidades motoras específicas, sem que se deixe de lado as habilidades motoras básicas. As habilidades como passe, recepção e arremesso poderão começar a ser exploradas. A terceira etapa seria a do treinamento de formação, devendo-se ainda ser dada ênfase à capacidade de jogo. A partir desta etapa o esporte deve ser abordado de maneira específica, utilizando-se dos seus próprios conteúdos, onde os alunos devem ser capazes de conhecer as posições do handebol (goleiro, pivô, ponta direita, ponta esquerda, etc.); nesta etapa o gesto técnico deverá ser automatizado e corrigido pelo professor. Por último, e não menos importante, o princípio do jogador universal e versátil deverá ser estimulado. As atividades deverão ser baseadas na base motora (força, velocidade, resistência), na base técnica individual (passes, recepções, dribles, condução, fintas e chutes), utilizando-se da estrutura básica 1 versus 1, e base tática de grupo ofensiva e defensiva (cobertura, troca de marcação). A quarta etapa, acima dos 18 anos de idade, é a do treinamento de alto nível de rendimento. Essa última fase pode ser vivenciada por aqueles que desejarem continuar a prática da modalidade, respeitando-se as características individuais e hereditariedade, isto é, a pré-disposição para tal modalidade. Ao mesmo tempo em que se deve mostrar aos alunos as normas do esporte, deveremos também colocá-los por dentro de situações de jogo; além disso, devemos procurar colocar os alunos nas funções de árbitro, secretário e cronometrista para que eles possam vivenciar todos os lados de uma partida de handebol.
Para Kröger e Roth (2002), em seu livro intitulado "A escola da bola", os desportos coletivos realizados nas nossas escolas devem ser baseados em três pontos de apoio: "jogos situacionais" (construção de jogos de um modo que possa permitir à criança desenvolver elementos táticos, adquirindo uma capacidade geral de jogo e competência tática); "orientados para as habilidades" (ao exercitar diversos elementos comuns a todos os esportes coletivos, acredita-se que a criança irá adquirir uma base para o aprendizado de elementos técnicos específicos de determinados esportes, que poderão ser priorizados em um momento posterior. Entre estes elementos estão o controle dos ângulos, a regulação de aplicação da força, determinação do momento do passe, determinação das linhas de corrida e tempo da bola, oferecer-se, antecipação da direção do passe, antecipação defensiva e a observação dos deslocamentos. E "orientados para as capacidades coordenativas" (o professor deve apresentar aos alunos diferentes estímulos informacionais (variabilidade) de natureza eferente (coordenação motora grossa e coordenação motora fina) e de natureza aferente (óptico, tátil, vestibular, acústico e cinestésico). Além da variabilidade de estímulos, o professor deverá levar em consideração que as atividades deverão ser executadas dentro de certas condições de pressão. São elas: pressão temporal, pressão de precisão, pressão de complexidade, pressão de organização, pressão de variabilidade, pressão de carga, porém precisamos ter o cuidado de não colocarmos todas estas condições de pressão, acima citadas, em uma mesma atividade para um aluno que está na iniciação esportiva.
Precisamos fazer parte desta defesa das nossas crianças que praticam esporte nas nossas escolas, ou seja, temos a obrigação de oportunizar a elas a possibilidade de participar de vários esportes e que o seu aprendizado no esporte seja de maneira universal, jogando nas diferentes posições do handebol, como por exemplo: goleiro, ponta direita, ponta esquerda, pivô, entre outras. Este conhecimento universal fará com que mais na frente, durante os jogos, o desempenho individual de cada jogador atinja um nível muito bom, e por conseqüência o desempenho coletivo também atingirá um nível técnico/tático/normativo bem melhor.
Devemos, em todas as fases do desenvolvimento de uma criança, respeitar a sua individualidade, pois todas são diferentes. Precisamos saber identificar essas diferenças durante este processo e compreender os diferentes comportamentos motores/cognitivos/afetivo-sociais que venham a ocorrer, para que possamos obter êxito no nosso treinamento, neste caso do handebol, sem provocar uma saturação.
A educação motora é o passo mais importante para que posteriormente venha a se desenvolver uma formação esportiva de alto nível, pensando desde já, no jogador universal. O início do processo de educação motora ocorre com a aquisição e o desenvolvimento das habilidades motoras básicas. Este momento natural ocorre por meio de duas vias: maturação biológica (crescimento e desenvolvimento natural do ser humano) e experiência motora (a vivência no ambiente favorece a aquisição e o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, ou seja, uma criança que joga handebol com os seus colegas na sua rua terá mais facilidade de assimilar os conteúdos do handebol, devido a sua experiência anterior, enquanto que, uma criança que é criada super protegida pelos pais dentro de apartamentos, passando grande parte do seu tempo em frente a computadores e videogames, deverá começar do zero, por não ter nenhuma experiência anterior com o esporte, merecendo, por parte do professor, uma atenção especial e uma maior dedicação para que venha a atingir o mesmo nível daquelas que tinham alguma experiência anterior). O professor de educação física irá trabalhar fundamentalmente na segunda via, que é a da experiência motora, haja visto que não poderá intervir na maturação biológica dos seus alunos, por ser algo geneticamente pré-estabelecido desde a sua concepção.
As habilidades motoras (básicas e específicas) são indispensáveis ao vocabulário motor do ser humano, ou seja, se os mesmos não estão presentes não há harmonia na realização dos movimentos. Entenda-se por vocabulário motor o somatório de todas as experiências vivenciadas pelo ser humano no seu plano motor.
Para uma visão geral do que seriam as habilidades motoras básicas, é do nosso conhecimento que elas são divididas em três classes: locomotoras, não-locomotoras e manipulativas. Nas locomotoras é propiciada aos alunos uma máxima exploração do ambiente, internalizando movimentos que serão utilizado nas fases seguintes do seu treinamento. Já as não-locomotoras são aquelas que permitem o domínio do corpo no espaço, relacionando-se principalmente ao equilíbrio, que será bastante exigido nas fases seguintes. Nas habilidades manipulativas, será propiciado aos alunos o contato com o objeto que será utilizado na sua prática esportiva. Resumindo, a melhor maneira de motivar esta prática é por meio de jogos (conteúdos), onde os movimentos serão apresentados aos alunos dentro de uma totalidade, sem preocupação de segmentação de partes (método). Todas estas classes de habilidades precisam ser trabalhadas nesta fase, pois serão bastante utilizadas durante todas as demais fases de treinamento, ou seja, é como seu próprio nome diz, a base de tudo.
Em todas as fases do trabalho de iniciação esportiva, não podemos permitir, de maneira nenhuma, que algum aluno seja excluído de qualquer atividade. Se a atividade é desenvolvida através de duplas e os alunos totalizam um número ímpar, o professor deve determinar a formação de um trio para resolver o problema, permitindo que todos participem.
Atualmente, o descaso com a prática esportiva na infância e até mesmo na adolescência dentro da escola, está retirando um número alto de crianças dos esportes. Os professores atuam predominantemente como técnicos, excluindo os que, por ventura, tiveram menor desenvolvimento das habilidades motoras básicas e específicas, além também de promoverem uma competição que é pouco interessante para crianças. Está comprovado que crianças que não tiveram a oportunidade de vivenciar atividades que propiciassem um bom desenvolvimento harmônico, não possuem características importantes como a coordenação motora, importante para a prática das atividades esportivas.
Portanto, faz-se necessário que, em primeiro plano, o esporte seja encarado como esporte educação e que a passagem da criança pelo mesmo, durante a sua vida escolar, seja satisfatória e prazerosa, orientada por um profissional adequado que possua uma base científica e metodológica condizente com cada faixa etária do desenvolvimento humano.
Baseado no esporte educação, o handebol deve ser desenvolvido através de atividades lúdicas e recreativas, utilizadas principalmente nas primeiras fases do treinamento com o intuito de desenvolver as capacidades (habilidades) gerais inerentes e adquiridas de cada criança, e desenvolver as capacidades coordenativas, respeitando-se as diferenças individuais, além de ter como objetivo o desenvolvimento das habilidades presentes no handebol. E por último, mas não menos importante, o handebol terá como finalidade principal a inclusão de todas as crianças que praticam este esporte, sem discriminação. Precisamos acima de tudo, procurarmos uma melhor qualificação para podermos propiciar as nossas crianças a prática de um esporte saudável e proveitoso.
Referências bibliográficas
1) TUBINO, Manoel J.Gomes.Dimensões sociais do esporte.SÃO PAULO: Cortez, 1992.
2) DE ROSE JR. Dante. esporte e atividade física na infância e na adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2002.
3) KROGER, C., ROTH, K. Escola da bola: um abc para iniciantes nos jogos esportivos. São Paulo:Phorte,2002.
EHRET et all. Manual do handebol. São Paulo: Phorte, 2002.
Gallahue, D. Ozmun. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3a edição. São Paulo: Phorte, 2005.
Autor: Flávio Gomes Barroca
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