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Educação Física escolar: apontamentos sobre as tendências pedagógicas no Brasil







    O texto apresenta-se como um apontamento cuja finalidade é indicar relações e articulações entre os critérios organizadores do conhecimento da Educação Física brasileira, no século XX, e desdobramentos pedagógicos. Trata-se, portanto, de uma visão panorâmica sobre o tema, com vistas a indicar tendências e apontar articulações que podem ser aprofundadas na vasta literatura da área. A novidade do texto está na articulação entre critérios epistemológicos e estratégias pedagógicas, indicando também a concepção de corpo e movimento em pauta em cada tendência.

     Na década de 30 do século XX, a Educação Física guiou-se pelos critérios de aptidão física. A Educação Física influenciada pelo Movimento Ginástico Europeu, difundido pela ginástica, objetivava, por fim, a eugenia. Assim, a Educação Física brasileira inseria em seu discurso a promoção de saúde e a preparação do indivíduo para o cumprimento dos serviços militares. O conteúdo das aulas pautava-se nos métodos ginásticos (sueco, alemão e francês) e o método fundamentava-se no comando e no ensino por tarefas. A concepção de corpo norteava-se pelos pressupostos anátomo-fisiológicos, numa compreensão dualista de corpo, considerando o movimento como o deslocamento de um amontoado de partes do corpo, estritamente mecanicista.

      Durante as décadas de 1960 e 1970 configurou-se como critério organizador do conhecimento da Educação Física, o Método Desportivo Generalizado. Esse método objetivava por fim a esportivização da Educação Física, "incorporando o esporte e adequando-o a objetivos e práticas pedagógicas" (BRASIL, 2000, p. 22), sendo seu conteúdo voltado para a iniciação esportiva. O método utilizado era norteado pelos estilos comando e tarefas. A compreensão de corpo era a mesma difundida pela aptidão física e o movimento norteado pela perspectiva de rendimento esportivo. A ênfase na esportivização dos conteúdos da Educação Física restringia o movimento e o próprio conhecimento da área aos códigos esportivos.

      Na década de 1980, a ênfase centrou-se na Psicomotricidade, no desenvolvimento psicomotor do aluno. O conteúdo da Educação Física enfatizava a reabilitação do movimento, com seus conteúdos voltados para o desenvolvimento da lateralidade, coordenação motora, percepção e equilíbrio. O método de ensino tinha como parâmetro a realização de tarefas e a descoberta orientada (MOSTON, 1978). A concepção de corpo articulava-se a uma compressão "total" do corpo enfocando as esferas do comportamento, ou seja, os aspectos cognitivos, sociais, motores e afetivos.

      Nas décadas de 1980 e 1990 divulgou-se no Brasil a aprendizagem motora, fundamentada na psicologia desenvolvimentista. A aprendizagem motora incorporou a Psicomotricidade e numa tentativa de caracterizar melhor a área centrou-se no desenvolvimento de habilidades básicas e específicas. O método estruturava-se na descoberta orientada e na solução de problemas e o objetivo referia-se à educação do movimento (MOSTON, 1978). O movimento ocorria no sentido do simples para o complexo, a compreensão de corpo articulava-se na psicologia desenvolvimentista através das taxionomias. Em última instância a aprendizagem motora enfatiza a iniciação esportiva generalizada.

     No início da década de 1990, o Coletivo de Autores (1992) divulgou uma proposta de metodologia do ensino da Educação Física, discutindo a área como componente curricular da Educação Básica, cujo conhecimento referia-se à cultura corporal como linguagem expressa por meio de jogos, danças, esportes, ginástica entre outras expressões. Essa referência influenciou significativamente o redimensionamento pedagógico da Educação Física brasileira, notadamente no que diz respeito ao critério de organização do conhecimento e seu vínculo com a cultura, desnaturalizando a compreensão de corpo e movimento predominantes até então. A partir dessa referência, outras discussões foram realizadas e retomadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000).

     A Cultura Corporal de Movimento foi proposta, na década de 1990. Os conteúdos referiam-se aos jogos, ginásticas, esportes, lutas, danças e conhecimento do corpo. A cultura de movimento inclui o orgânico, ou seja, a natureza do movimento, processos biofisiológicos e seus significados, constituições culturais. A compreensão de corpo buscava superar o dualismo cartesiano, configurada na compreensão de corpo a partir do conceito de corporeidade e da intencionalidade do movimento (KUNZ, 1991; NÓBREGA 2009).

     Contemporaneamente, constata-se a inserção de diversos critérios de organização no conhecimento da Educação Física brasileira, como também a manutenção de critérios como aptidão física, desenvolvimento motor e Psicomotricidade, tanto nas escolas, como nos currículos das instituições superiores, pois o surgimento de uma tendência não significa necessariamente o desaparecimento de sua antecessora; bem como não ocorre um processo de cristalização de uma certa tendência, ou seja, o movimento é dinâmico, tendo seu fundamento na escrita histórica e epistêmica. Observa-se que no campo da Educação Física, considerando sua intervenção escolar, há resistências às mudanças. Debruçar sobre o movimento das tendências pedagógicas na Educação Física brasileira nos possibilita observar uma diversidade conceitual no conhecimento da Área, que por sua vez reflete na prática pedagógica da Educação Física. Identificar essas diferenças contribui para compreendermos o que carateriza o conhecimento da área que ensinamos, bem como seu sentido como componente curricular em um dado espaço e tempo pedagógico.  

Referências 

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: educação física. 2ª Ed. Rio de janeiro: DP&A, 2000.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

KUNZ, E. Educação Física: ensino & mudança. Ijuí. Unijuì. Ed., 1991.

MOSTON, M. La ensenãnza de la educacion física: del comando al descobrimiento. Buenos Aires, 1978.

NÓBREGA. T. P. Corporeidade e Educação Física: do corpo-objeto ao corpo-sujeito.3 ed. Natal: Editora da UFRN, 2009.
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