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Aulas de EF escolar começam a ser cancelados por causa de lei






A grade curricular dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio da rede estadual terá um buraco em 2009. Resolução da Secretaria da Educação cancelou a disciplina de Educação Física para o curso da manhã. A justificativa é que o governo está obrigado, por lei, a oferecer Filosofia e Sociologia e, diante da falta de espaço, optou por retirar a disciplina. Além disso, "os jovens têm outras preocupações nesta época, como o vestibular", informou a assessoria de comunicação. Cerca de 35 mil estudantes podem ser afetados na região.

A decisão causa indignação entre os professores, já que na mesma programação há seis aulas semanais reservadas a disciplinas de apoio curricular, não especificadas pelo Estado. Há ainda outro ponto controverso. Segundo a lei estadual 11.361/2003, as aulas de Educação Física são componentes obrigatórios em todas as séries da rede. Há professores concursados para a função. A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) movimenta a classe para a adoção de medidas contrárias ao estabelecido.

A diretora Vera Lucia Zinberger afirma que a secretaria não pode sobrepor uma resolução a uma lei estadual. "É ilegal. Estamos em contato com os diretores das escolas para orientá-los. Eles devem montar a grade com Educação Física. Não há motivos para tirar a disciplina diante da reserva para apoio curricular. Nem sabemos o que é isso,"

O sindicato defende que as próprias escolas adaptem seu espaço com todas as disciplinas. Os alunos do período noturno, por exemplo, farão as atividades físicas aos sábados. "Por que essa possibilidade não é dada também a quem estuda de manhã? Temos de conseguir um acordo para que ninguém saia prejudicado", reclama a supervisora de ensino do CPP (Centro de Professorado Paulista), Maria Lúcia de Almeida.

Para quem lida com os jovens no dia-a-dia, trata-se de mais uma decisão imposta, sem diálogo. "A Educação Física é um componente curricular como qualquer outro. Temos a responsabilidade de levar aos alunos a cultura de movimento. Não é só esporte, mas uma relação de corpo. Para se ter idéia do absurdo, recebemos um caderno da secretaria com sugestões de atividades para todos as séries, inclusive o terceiro ano do Ensino Médio", diz o professor Bruno Oliveira.

Procurada, a secretária Maria Helena Guimarães não atendeu ao pedido de entrevista feito pela reportagem.

Para especialistas, resolução é descaso

Descaso e falta de conhecimento curricular. Para a coordenadora do curso de Pedagogia da PUC (Pontifícia Universidade Católica), Maria Estela Graciani, a decisão tomada pela Secretaria de Estado da Educação chega a ser ridícula. "É difícil até de acreditar. Uma matriz curricular integrada exige ponderação entre os diferentes saberes de que os alunos necessitam para sua formação ao longo da vida que, particularmente nessa faixa de idade, requer ações de lazer e cultura. A falta desses elementos, muitas vezes, leva o jovem ao tráfico, ao crime organizado."

Para a especialista, o governo está tirando do estudante entre 16 e 17 anos a chance de extravasar de maneira saudável. "É uma ação contrária a qualquer política pública direcionada ao jovem. Todos defendem a prática de esportes como forma de socialização. Na escola isso é muito forte. É em torno das atividades físicas que se formam as amizades. Além disso, quem definiu que uma matéria é mais importante do que a outra? Não há priorização no conhecimento. O que se busca é a interdisciplinaridade", afirma.

Para os principais atingidos, a notícia parece não ter sentido. O estudante William Alves Rodrigues, 16 anos, vai cursar o terceiro ano do Ensino Médio em 2009 e não entende o motivo do cancelamento das aulas de Educação Física. "Todo mundo da minha escola freqüenta. Temos um time de futebol montado. Sempre foi um momento legal, até porque saíamos da sala um pouco", diz.

Professor da disciplina, Bruno Oliveira se considera atacado. "Os professores vão ter de brigar pelas aulas agora. Há muita gente que prestou concurso para trabalhar na rede estadual. O que a secretaria vai fazer com eles?", questiona. Segundo a assessoria de comunicação, os profissionais da matéria serão remanejados, sem qualquer prejuízo. A Pasta só não mencionou de que maneira, já que o número de aulas cairá em todo o Estado.

A medida ainda contraria as tradicionais dicas dadas a quem está em fase pré-vestibular. Além de estudar, os alunos são incentivados a praticar atividades que proporcionem relaxamento. "A Educação Física é ponto estratégico para o desenvolvimento do caráter. Muitas vezes delineia uma identidade, na vida profissional ou pessoal", completa a pedagoga Maria Estela Graciani.

Para revogar a determinação, a classe precisa aprovar nova grade curricular, mas a probabilidade, segundo o governo, é nula.

Montanaro descobriu o talento para o vôlei em escola estadual

Foi um professor, de uma escola estadual, que apresentou o vôlei a José Montanaro Júnior. O ex-craque da seleção brasileira - medalha de prata dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984 - cursava exatamente o terceiro ano do Ensino Médio. Tinha 17 anos, quando passou a reconhecer o valor do esporte. "Olha só no que deu. Minha vida mudou graças à Educação Física", afirma.

Apesar do talento nato, o atual diretor de vôlei do Santander pensou em resistir ao convite. "Naquela época, era considerado esporte de menina. Mas não deu, o professor me obrigou. Ainda bem. Nessa idade, praticar exercício é muito importante. Não sei como podem tirar da grade curricular. Está totalmente errado, demonstra a falta de cultura em relação até ao conteúdo da matéria, já que o esporte é apenas uma parte da Educação Física", diz.

Para o atleta, tirar a disciplina da escola é como deixar de ensinar Matemática ou Português e declarar total descaso ao profissional. "A Educação Física tem a ver com saúde, principalmente nesses tempos em que os jovens estão cada vez mais sedentários. É uma maneira de tirá-los de frente da televisão, da internet, de fazer com que se socializem e fujam do lazer estático."

Se levada adiante, a medida trará resultados negativos a longo prazo, segundo Montanaro. "Vai fazer falta, com certeza, principalmente nos grandes centros, onde a violência cresce entre os jovens. Se não dermos importância a isso na escola, ninguém dará. Exercícios físicos são as melhores ferramentas educacionais de convivência. Ensinam a saber ganhar, perder, treinar e conviver com a dor. Sem dúvida, é um erro gravíssimo."


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